Missão
impossível é um filme dos Estados Unidos dirigido por Brian de Palma, com Tom
Cruise, Jon Voight, Emmanuelle Béart e outros. Parece-me que a missão não foi
tão impossível assim, já que no final ela foi cumprida.
Mas
não é sobre o filme que quero tecer comentários e sim dizer que a filosofia
nudista/naturista jamais conseguirá modificar as inversões de valores sociais.
Viegas Fernandes da Costa em seu artigo “Sobre a Nudez Social” fez o seguinte
relato: Ao iniciar estas breves reflexões a respeito da minha experiência com a
nudez social, ocorre-me à lembrança uma matéria da revista Veja do final da
década de 1990, que tratava da guerra civil na Libéria. Chamou-me especial
atenção uma fotografia que exibia o cadáver de um homem nu que havia sido
linchado pelos guerrilheiros e abandonado à rua. Podia-se ver todo o corpo,
suas feridas, a expressão de dor na face inerte e as lanhuras nos braços e
pernas. Sobre o pênis, entretanto, uma espécie de tarja. Fiquei me perguntando
o que seria mais obsceno: se a guerra civil e toda sorte de dor e destruição
que esta provoca, onde cadáveres humanos são abandonados insepultos em meio à
população que desesperadamente tenta sobreviver; ou se a exposição de um pênis
aos olhos de leitores pudicos que poderiam se escandalizar, dando uma conotação
sexual doentia a uma parte de um corpo humano barbaramente torturado e morto.
Encaramos com naturalidade a guerra, o genocídio, a desestruturação social e a
tortura, mas a nudez que nos cobre desde nosso nascimento é desnaturalizada ao
ponto de um pênis supostamente chocar mais que a própria barbárie da guerra. Há
aqui, certamente, uma inversão de valores sobre a qual devemos nos questionar e
incomodar.
No
entanto existem inversões mais sutis, de modo despercebido pela maioria das
pessoas do nosso convívio, do tipo: “Coloque pelo menos uma cuequinha, fica
mais bonitinho”. Por que tal afirmativa é uma inversão de valores? Tentarei
esclarecer em poucas linhas já que longas explicações jamais serão lidas.
Não
existe senão um único templo no Universo, e é o Corpo do Homem.
Nada é mais sagrado do que esta
elevada forma.
Curvar-se
diante do homem é um ato de reverência feito diante desta
Revelação da Carne. Tocamos o céu quando
colocamos nossas mãos num
corpo humano.
Novalis
(pseudônimo de autor de Frederich Von Hardenberg, 1772. Citado em Miscellaneous
Essays, vol II, de Thomas Carlyle).
Tanto
a pele quanto o sistema nervoso originam-se da mais externa das três camadas de
células embrionárias, a ectoderme, logo, o sistema nervoso é uma parte
escondida da pele ou, ao contrário, a pele pode ser considerada como a porção
exposta do sistema nervoso (1). Isto é muito significativo uma vez que a pele
possuindo uma conexão com o sistema nervoso central ou interno, é também
responsável pelas nossas percepções do mundo externo em que vivemos.
Muitos
estudos têm sido feitos a partir da década de 70 com resultados surpreendentes
e admiráveis com funções variadas: a) base dos receptores sensoriais; b)
mediadora de sensações; c) barreira contra materiais tóxicos; d) responsável
por um papel de destaque na regulação da pressão e do fluxo de sangue; e) órgão
implicado no metabolismo e armazenamento de gordura são alguns poucos exemplos
que cito. Até mesmo o autor do livro “Tocar” Ashley Montagu fica intrigado dos
motivos da poesia se mostre tão desapontadamente estéril. Diz ele:
Foram
escritos poemas para celebrar praticamente todas as partes do corpo, mas a
pele, inexplicavelmente, parece ter sido negligenciada, como se não existisse.
Num artigo intitulado “Hugging Humans” (Humanos Abraçando) ele se queixa do
fato de muitos dos mais prezados poetas ingleses permanecerem encapsulados em
seus intelectos, mantendo com alta freqüência um relacionamento muito precário
com o seu corpo físico.
Para
sentir a beleza de todo o corpo humano, é fundamental entender com o que
estamos lidando, com uma fronteira cujo funcionamento ainda não totalmente
explicável em nossas pesquisas científicas. E se mesmo assim uma simples “cuequinha”
for mais bonita que a pele que nos cobre só mesmo chamando Tom Cruise para mais
uma missão impossível de resgate, só que não será de uma pessoa e sim da
própria identidade de todos nós.
(1)
Ashley Montagu;
Tocar
Evandro
Telles
03/04/14
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