segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A SEMENTE DO NATURISMO





Penso que todas as pessoas possuem dentro de si a semente do Naturismo, afinal de contas nascemos nus e livres. No entanto, toda semente guarda dentro de si um potencial, pode florescer ou não. Nem todas crescem, só envelhecem. Envelhecer qualquer animal é capaz disso. Crescer é prerrogativa dos seres humanos. Só alguns reivindicam esse direito.

A criança nasce, é o momento mais livre de todo ser humano, mas no momento seguinte já está sendo corrompida pela sociedade e seus valores. O que o Naturismo faz? Proporciona maturidade. Maturidade significa resgatar sua inocência, tornar-se uma criança novamente. Claro que há uma diferença – a criança comum está destinada a ser corrompida, mas quando você recupera a sua infância, você se torna incorruptível. Ninguém o pode corromper; você se torna inteligente o bastante - Agora, sabe o que a sociedade lhe fez, você está alerta e atento, não permitirá que isso aconteça novamente.

Posso escrever muitos livros e diversos artigos, mesmo assim será de pouca utilidade para aqueles que se apegam aos seus conceitos. Isso acontece por dois grandes motivos: Primeiro, o Naturismo só pode ser conhecido por meio da experimentação e não só pela leitura. Lógico que a leitura ajuda abrir o leque do nosso entendimento proporcionando uma melhor aceitação, entretanto, sozinha não significa nada. Segundo, a linguagem nunca pode abranger a totalidade da vida. Tentou-se muitas vezes abranger a totalidade da vida com a expressão lingüística. Nunca se teve êxito, e não pode ter. Se disser que alguém é feio e bonito a linguagem se volta irracional, na realidade é assim mesmo, ninguém é simplesmente feio e ninguém é simplesmente bonito. Onde existe a beleza, existe a fealdade; onde existe a fealdade, existe a beleza. Formam parte de um todo.

O Grupo Naturismo Capixaba sempre proporcionou a oportunidade para aqueles que desejam conhecer o Naturismo sem impor a nudez, deixando que a semente possa germinar no seu próprio tempo, preservando a ética, a amizade e a união.

Qual o motivo da nudez social ser tão importante assim? Nossa sociedade esqueceu que o corpo representa um templo e o trata como matéria, em especial relação corpo – sexo, algo para uso. O Naturismo é uma espécie de rebeldia que consiste em acabar com essa obsessão sem desprezar a própria natureza que é livre, é fazer que o ser humano seja aceito em sua totalidade, não em partes. Por outro lado, essa liberdade consciente cria raízes profundas que o transforma. O rebelde não é entendido pela massa, a presença da nudez parece ofensiva, porque abre os olhos e mostra o corpo numa nova perspectiva. O respeito pelo outro passa a ser também um dos objetivos primeiro, uma vez que os defeitos todos nós os possuímos de uma forma ou outra.

As guerras, as bombas lançadas contra seu semelhante jamais teriam acontecidas se as pessoas não fossem vistas como meros objetos. Será que o Naturismo tem a audácia de mudar o mundo? De forma alguma, as verdadeiras mudanças ocorrem a partir do indivíduo, um processo lento. A sociedade é composta de pessoas individualizadas, um nome para designar o coletivo, o que realmente existe são os indivíduos e são esses que precisam criar uma nova mentalidade com relação ao corpo.

Para que a semente do Naturismo possa criar raízes é fundamental que seus participantes assumam a sua condição diante de todos com orgulho. Sem conflito com o próprio corpo que se cria um clima mais propício para a plenitude, o reconhecimento que as raízes e as flores são duas extremidades de um único fenômeno, ou seja, o corpo e a interioridade só podem ser vistos de modo integrados, sem nenhuma divisão. Assim é que o Naturismo deve ser vivido.


Evandro Telles

25/08/14

quarta-feira, 30 de julho de 2014

X ENCONTRO BRASILEIRO DE NATURISMO

(carta de Valdemir Rodrigues de Andrade)


Amigos naturistas, bom dia. 

O X EBN - Encontro Brasileiro de Naturismo foi simplesmente um marco, que marcou a história e a mente de quem esteve no evento. Devo reconhecer que a energia que fluiu de todos os participantes, de todas as partes do imenso Brasil e a troca respeitosa com a comunidade da Vila de Massarandupió, foi indescritível. 

Houve tempo para tudo. Reuniões da Diretoria, dos Conselhos, Plenária,  da equipe de apoio, das rodas de samba, das brincadeiras, das trilhas ecológicas, da belíssima e inesquecível chuva na praia, das entregas de reconhecimentos entre as associadas, certificações de áreas naturistas, afiliação de novos grupos, de abraços, de carinho entre as diversas culturas ali representadas, e muito amor uns pelos outros. 

Naturismo é isso! Fraternidade verdadeira, amplitude de ações, aceitação de si e do próximo, diferenças que não distanciam e muito pelo contrário; atraem! 

Foi inesquecível, educativo, inigualável. Estamos crescendo, não em números (apenas, mas também) e sim, e principalmente, na qualidade do conhecimento sobre o que é ser naturista. Pessoas que se importam com a comunidade local, com as carências da localidade onde se encontra, do recolhimento do lixo que o amigo deixa cair, da mão estendida em direção ao diferente, do sorriso grato pelo simples fato de alguém estar ali, bem pertinho da gente. 

Como é bom saber que isso existe, assim como a natureza que se renova a cada corte, que brota das destruições, que insiste em permanecer, assim é o naturista, homem e mulher que insiste em existir com toda a leveza do ser, sem cargas nenhumas de paradigmas ou definições existenciais, mas com uma forte e inesgotável disposição de mutação, de ser hoje diferente de ontem para se encaixar na natureza da vida, tal qual é a natureza, que nativa não tem ordem, nem separação por espécie, uma nascendo e crescendo à sobra da outra, se enroscando na forma da outra sem cismas, sem preconceitos, apenas acontecendo com a fluidez natural da vida harmônica do existir sem porquês, apenas sendo! 

Naturista é isto. Somos o que somos, e somamos aos que são, vivemos! Sem cobranças, sem contas, nem medos, nem desesperos, sem olhares de malícia, sem olhares curiosos, sem olhares maldosos, apenas sendo na vida uma partícula do todo, sem dívidas com o outro, já que fazemos a nossa parte e quando dá, até a do outro, para que o todo se beneficie e não apenas um, ou outro. 

Que comunidade linda estamos construindo. Que mundo maravilhoso estamos despertando. Obrigado a todos os naturistas! 

Destaco um trecho da matéria feita pelos jornalistas do site www.camacarifatosefotos.com.br/ que cobriram o evento, aos quais já parabenizo e convido a todos que leiam atentamente e admirem a visão de quem chega e vê o naturismo brasileiro!

"Mas, o resultado é que o X Encontro Brasileiro de Naturismo, deixou valores para quem realmente soube se desnudar (em todos os sentidos), sobretudo de conceitos pré-concebidos. E olhar ao seu redor, olhar para as pessoas que estiveram do seu lado durante três dias de convívio, encontrar o significado delas, alguns mesmo que, até ali apenas um estranho, e perceber que o ser humano mesmo com seus defeitos particulares consegue emanar suas virtudes sob o olhar aprovador da Natureza, para essa gente, não teve nem jamais terá medida que consiga medir." (Fonte: CFF/Milagros Diaz) 

Com admiração, respeito e gratidão. 

Valdemir Rodrigues de Andrade
Diretor de Divulgação da FBrN
Conselheiro Maior Região Centro-Oeste



terça-feira, 8 de julho de 2014

O NATURISMO DE PAUL GAUGUIN




Na década de 1890, Gauguin viveu no Taiti e produziu uma série de telas que constitui a parte mais conhecida de sua obra. Seus quadros dessa época registraram o espaço natural e a vida simples das pessoas livres das imposições culturais da civilização ocidental. As telas acima “Duas taitianas com folhas de manga – 1899” e “O Cristo amarelo – 1889” são algumas entre tantas outras produzidas pelo pintor que parte para o Taiti em busca de novos temas e para se libertar dos condicionamentos da Europa.

Após a Quinta Exposição Impressionista realizada em 1880, “L’Art Moderne” publica a respeito de “Estudo de Nu ou Suzanne Costurando”: “Entre os pintores contemporâneos que trabalham o nu, nenhum foi capaz de representá-lo com tão veemente realismo...Gauguin foi o primeiro artista em muitos anos que tentou representar a mulher de nossos dias...Seu sucesso é completo, ele criou uma tela ousada e autêntica”.



Foi inaugurada no dia 30/06 em Vitória ES a Fábrica de Ideias. Um espaço dedicado à economia criativa e ao empreendedorismo que, segundo os organizadores, uma oportunidade para inovação e destaques da criatividade. Exceto quando essa “criatividade” faz referência à arte da nudez humana. Sim, a fachada ganhou um painel de 250 metros quadrados de autoria do artista plástico Emílio Aceti. Inspirado na obra de Paul Gauguin foi pedido (eu li obrigado) que fizesse uma “simples” modificação na sua obra que o mesmo considerou um desrespeito para com a arte.

   

Não minto, tive a sensação de estar vivendo na época medieval em que Galileu teve que retratar suas descobertas científicas. Em pleno século XXI onde já se diz que “O Futuro Chegou” o que vejo é que as pessoas estão sempre querendo se ajustar a uma sociedade neurótica e doente. A obra de Paul Gauguin foi alterada, a arte de Emilio Aceti foi desvalorizada. Ninguém tem o direito de querer mudar a criatividade de um artista, mesmo porque as intuições têm origens que nem mesmo o seu autor sabe de onde elas chegam, mas que precisam ser expressas daquela forma. Quando alteradas, a beleza se perde como num passe de mágica, a poesia ficou escondida no interior do poeta, e por causa disso o encanto morreu.

Elcylio Antunes Neto em seu livro “O Evangelho Segundo Aquenaton” apresentado no encontro literário “Café com Letras” no dia 03/07/14, na página 42 diz: “O que chamamos de maldade não vem de figuras míticas, mas do nosso interior quando está repleto de ignorância.”

O indivíduo com o seu falso moralismo não consegue conceber um mundo mais natural onde possa prevalecer uma nova concepção do corpo humano, ele joga para fora toda a maledicência que possui dentro dele impregnado na sua formação. Esse mundo onde o corpo possui dignidade existe sim e não é utopia, chamamos de Naturismo.

Evandro Telles
08/07/14

terça-feira, 10 de junho de 2014

NATURISMO E YANNI



Yanni, é o nome do livro lançado em Maio desse ano pelo amigo Yan Siqueira, não perdi tempo e logo registrei a minha presença ao lado de uma pessoa que muito admiro por sua incansável dedicação na declamação, na poesia e na forma como ele coloca as palavras em seus artigos. Ora agressiva, mas que retrata muito do que ouvimos no cotidiano, ora mostrando as frustrações das pessoas que vivem frequentemente conosco e em alguns momentos até mesmo de forma amorosa, mas não deixando de ser realista.

Um livro instigante a partir da própria capa onde mostra a fotografia de Claude Cahun, pseudônimo inventado pela artista que se chamava Lucy Renée Mathilde Schwob. Esse nome foi escolhido intencionalmente por se tratar de um nome que poderia ser tanto masculino quanto feminino. Do mesmo modo que Yanni foi considerado. Pode ser homem, mulher ou criança, pode ser qualquer um que queira assumir a sua roupagem.

Yan sabe muito bem que a linguagem nunca pode abranger a totalidade da vida, nunca se teve êxito por meio da expressão linguística, principalmente por causa das falhas das nossas percepções sensoriais, a mente tudo quer dividir: homem, mulher; macho, fêmea; dia e noite; frio e quente. Transcender essa polarização é ir além do Yin e Yang que é um princípio da filosofia chinesa onde representam duas energias opostas. A vida só pode se manifestar com a força dessas energias, o que na verdade não são opostas. Como transcender diante de uma mente fragmentada?


Numa passagem o Yanni estava num reformatório e o autor diz: “O maior problema era lidar com a nudez. Não que fosse tímido, não é isso. Mas as cicatrizes do passado não só marcavam as memórias, mas também o corpo. Souberam que uma cicatriz lhe cortava as costas.”

Em outra Yanni é um homem num corpo de mulher e “Odiava as conversas das meninas, preferia jogar baralho com os meninos no intervalo entre as aulas. Sem saber, eu já tinha escolhido – mesmo sabendo que não se trata de uma escolha – o que queria ser.” (página 70) E quando “Havia feito a minha decisão. Na noite em que contei, minha mãe me olhou com os olhos nus. Ela não esperava que eu fosse tão longe. Você não é minha filha, ela disse. Respondi que ela estava certa. Eu queria ser um filho. Fui expulso de casa.” (página 71)

Outras passagens também merecedoras de destaques, mas no momento ficarei com as que foram citadas acima.

Tenho divulgado a filosofia de vida naturista como um meio de tornar as pessoas melhores, principalmente quando esses “melhores” guarda um significado não somente cultural, mas também do ponto de vista psíquico. Tenho em minhas mãos diversos depoimentos que o Naturismo tirou o indivíduo do seu estado depressivo, em outros casos até mesmo houve o resgate da sua auto-estima. Se Yanni fosse um naturista a cicatriz não seria um problema para a sua nudez, o conceito do outro em relação ao seu corpo não seria de forma nenhuma considerado. Conheci pessoas que mesmo sem um seio, retirado por causa de um câncer de mama, ainda assim freqüentava áreas naturistas. Um verdadeiro exemplo de desprendimento e de uma beleza maior do que os desfiles das misses perfeitas! As verdadeiras mudanças não ocorrem de fora e sim dentro de cada um de nós mesmos.

Naturismo é também harmonia com a natureza. Sabe o que isso significa? Uma das coisas mais belas que pode existir no relacionamento humano, é aceitar o outro do jeito que ele é. Tenho certeza que a preocupação da mãe do Yanni era com os conceitos sociais e o julgamento dos outros, se não fosse por isso e da falta de amor ela jamais negaria a sua maternidade e não precisaria Yanni tentar o suicídio. (página 72) A natureza não pede julgamentos.

Em alguns dos meus depoimentos, quando digo que sou naturista noto disfarçadamente risos sarcásticos como se o movimento nudista encerrasse com a nudez. Isso não é verdade, o seu resultado é psicológico e transparência do que realmente somos, ou seja, uma nova consciência surge a partir de uma nova realidade. E quando vejo algumas piadinhas sem graça com relação ao corpo, fico desejando que o outro tente alcançar uma percepção mais humana e natural. Não nego, às vezes sinto-me frustrado diante de tanta hipocrisia. Pode ser que eu seja o Yanni não aceito pela maioria como citado no livro, nesse caso o Yanni Naturista, mas não me impedirá de tentar criar um mundo melhor para se viver. Obrigado Yan, muitos questionamentos foram tirados do seu livro. Expõem os preconceitos que o Naturismo cura.

Evandro Telles
10/06/14

segunda-feira, 19 de maio de 2014

POR QUE É TÃO DIFÍCIL ENTENDER O NATURISMO?



Todas as culturas sempre buscaram a origem do Universo, o que na verdade se busca é a origem da própria vida. Assim, não tão difícil de entender os constantes atritos entre a ciência e as religiões. Desde os tempos de Tales, passando por Anaximandro que desenvolveu o primeiro modelo mecânico do Universo e chegando em Pitágoras que atribui aos números uma ponte entre a razão  humana e a mente divina. (1) Todos buscando a lógica da natureza e agora em pleno século XXI com o desenvolvimento da energia quântica em que diz que toda a matéria é energia e a lógica cai por terra. A matemática aqui já não é mais a mesma e continuamos buscando, buscando, buscando conhecer a nossa sábia natureza e nada sabemos das nossas origens, estamos nas teorias e brigamos pelos pensamentos que achamos que sabemos de alguma coisa.

O corpo coberto pela pele enquanto sistema sensorial é, em grande medida, o sistema de órgãos mais importante do corpo. O ser humano pode passar sua vida toda cego, surdo e completamente desprovido dos sentidos do olfato e do paladar, mas não poderá sobreviver de modo algum sem as funções desempenhadas pela pele.(2) Muitas pessoas não se permitem o contato dessa pele de forma íntima com a natureza, foi incutida a associação de corpo nu e sexo, o que muitas vezes gera um sentimento de culpa.

Acho bom também lembrar que as crianças educadas num ambiente naturista desenvolvem uma melhor auto-estima, sem a criação de máscaras para esconder seus corpos passam a ter atitudes mais positivas diante da vida. As pessoas que não se aprovam, no fundo também se cobrem tornando-se juízes dos outros. (3)

No entanto, muitos ainda permanecem com ideia de que teriam que justificar para amigos e familiares a sua presença em áreas naturistas. Estranho é que penso justamente ao contrário, como não proporcionar ao corpo um momento de inteira liberdade? A educação da moralidade do corpo é tão forte que o indivíduo tenta esconder a sua personalidade por trás das roupas e novamente cito o Dr John Veltheim: Quando as pessoas usam roupas como um meio de se desligarem do mundo e cobrem-se de modo a que o mundo não consiga ver a sua destorcida auto-imagem interior, elas criam uma tragédia de proporções imensas. Quando se escondem atrás das roupas, as pessoas fecham o seu corpo energicamente e psicologicamente.

Vejam que por trás dos argumentos contrários, atestados cientificamente favoráveis à liberdade do corpo, estão sempre voltados para a moralidade e educação desde a infância. Rejeitar a nudez é rejeitar o corpo, a vida, a natureza. Afirmo que a nudez não deve ser problema para um indivíduo sadio, bem informado, emocionalmente equilibrado. A censura, mais uma vez, é uma forma de violência, que normalmente tem raiz doméstica. (4)    

Celso Rossi tem razão quando diz que Naturismo é também para resgatar a nossa inocência perdida. E por que o Naturismo é tão difícil de ser entendido? Simplesmente porque não aprendemos a conhecer a nossa própria natureza. Sócrates já dizia: Deixe o Cosmo, mergulhe para dentro de si mesmo, não adianta conhecer lá fora o que não se conhece dentro de cada um de nós.

Abandone os conceitos, deixe a vida fluir. Integrando o corpo com a natureza a preservação dela virá naturalmente, caso contrário será suicídio. É justamente o que o homem moderno com todas as suas máscaras está cometendo.   


(1)   Marcelo Glaiser, A Dança do Universo;
(2)   Ashley Montagu, Tocar – O Significado Humano da Pele;
(3)   Dr John Veltheim – Nus Por Baixo da Roupa;
(4)   Paulo Pereira – Corpos Nus




Evandro Telles
19/05/14


terça-feira, 29 de abril de 2014

NUDISMO/NATURISMO NA MÁQUINA DO TEMPO





A Máquina do Tempo é o nome do 6º livro de Anaximandro Amorim lançado no dia 24/04/14 no Café com Letras, e não poderia deixar de prestar a minha homenagem ao amigo que sempre esteve presente, ou representado pelos seus pais, dando apoio a outros escritores e participando também com seus dons artísticos cantando maravilhosamente para todos.

O autor é membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras e da Academia de Letras e Artes da Serra. Também é membro da Academia Espirito-Santense de Letras e da Academia de Letras Humberto de Campos de Vila Velha-ES. Trata-se de diversas crônicas de sua autoria publicadas em seu blog e no Jornal da cidade. A leitura do livro me fez também relembrar algumas passagens na minha vida entre elas cito: No “13 de Julho, dia Mundial do Rock’n’Roll” que diferente de Anaximandro, fui músico e tinha um conjunto musical e péssimo cantor, minha frustração! E no “Meu primeiro carro” que o dele foi um Escort e não consigo esquecer o meu Chevette. Em “A Máquina do Tempo” não pude deixar de relembrar a IBM 82-C que tinha uma coleção de esferas para ter letras diferentes, bom essa era a moderna, tinha também uma Remington daquelas bem...deixa prá lá, não existe mais, exceto em museus.

Para meu espanto, logo que vi a crônica “O direito de envelhecer” não pude resistir em fazer um breve comentário, o que também me fez lembrar do artigo escrito pelo Laércio Júlio da Silva em 01/08/2009 ‘A Beleza que ameaça a juventude”. Ambos mostrando uma ilusão que torna o indivíduo prisioneiro de um sistema que privilegia a estética. Cita ele: Vivemos cercados por uma patrulha velada, a da chamada “ditadura da beleza”. Ela é pior que qualquer caudilho pois consegue estar, eficazmente, em todos os lugares, nos apelos comerciais, nas tevês e nas revistas. É um padrão praticamente inalcançável, que está fabricando uma massa de infelizes.

No meu pronunciamento diante de muitos poetas e escritores citei também a importância da pele humana fazendo referência ao livro “Tocar –O Significado Humano da Pele” de Ashley Montagu em que diz: É até certo ponto espantoso que aquele depósito de parcela tão significativa do espírito humano sensível – a saber, a poesia -, da qual seria possível esperar um profundo e sofisticado entendimento das funções da pele humana, se mostre tão desapontadoramente estéril. Foram escritos poemas para celebrar praticamente todas as partes do corpo, mas a pele, inexplicavelmente, parece ter sido negligenciada, como se não existisse. John Horder, poeta e escritor inglês, comentou esse ponto. Num artigo intitulado “Hugging Humans” (Humanos Abraçando) ele se queixa do fato de muitos dos mais prezados poetas ingleses permanecerem encapsulados em seus intelectos, mantendo com alta frequencia um relacionamento muito precário com seu corpo físico.
Ficou assim a minha sugestão aos intelectuais para que também atentassem que a pele que nos cobre pode muito bem ser motivo para a poesia.

Lembrei não publicamente do livro de Maciel de Aguiar em “Nós, Os Capixabas”, descrevendo a biografia de muitos nomes que fizeram a sua história, entre eles a Luz Del Fuego (Madrinha do Naturismo Brasileiro). Escreve ele que no auge da fama ela disse que “Só cinqüenta anos depois de morta serei lembrada em meu Estado natal”. Faltando poucos anos para confirmação ou não de sua profecia, em Cachoeiro de Itapemirim ainda não existe sequer uma rua com seu nome e muito menos já lhe prestaram homenagem. Após mais de quatro décadas de seu encantamento, que consternou o País, alguns cidadãos da “capital secreta do mundo” também foram esquecidos, embora outros tenham sido homenageados por merecimento.

Continua ele: Possivelmente, no Estado do Espírito Santo, cinqüenta anos não devam ser mesmo um tempo suficiente para se expurgar os resquícios do rancor, da ingratidão e do preconceito contra uma das mulheres mais corajosas e destemidas de seu tempo. Porém bem que sua memória merecia um ato de atrevimento de um cachoeirense justo, solidário e generoso. Deveria ser afixada, no local mais visível da cidade, a seguinte frase: “Aqui nasceu Luz Del Fuego, a luz que iluminou a alma libertária do Brasil e encantou o mundo”.

Obrigado Anaximandro, a sua máquina me permitiu viajar no tempo e de reconhecer que a verdadeira máquina são as nossas lembranças e o reconhecimento daqueles que antes foram desbravadores. Para a nova geração uma lenda, para mim uma eterna gratidão.


Evandro Telles
29/04/14



quarta-feira, 2 de abril de 2014

NUDISMO/NATURISMO - UMA MISSÃO IMPOSSÍVEL




Missão impossível é um filme dos Estados Unidos dirigido por Brian de Palma, com Tom Cruise, Jon Voight, Emmanuelle Béart e outros. Parece-me que a missão não foi tão impossível assim, já que no final ela foi cumprida.

Mas não é sobre o filme que quero tecer comentários e sim dizer que a filosofia nudista/naturista jamais conseguirá modificar as inversões de valores sociais. Viegas Fernandes da Costa em seu artigo “Sobre a Nudez Social” fez o seguinte relato: Ao iniciar estas breves reflexões a respeito da minha experiência com a nudez social, ocorre-me à lembrança uma matéria da revista Veja do final da década de 1990, que tratava da guerra civil na Libéria. Chamou-me especial atenção uma fotografia que exibia o cadáver de um homem nu que havia sido linchado pelos guerrilheiros e abandonado à rua. Podia-se ver todo o corpo, suas feridas, a expressão de dor na face inerte e as lanhuras nos braços e pernas. Sobre o pênis, entretanto, uma espécie de tarja. Fiquei me perguntando o que seria mais obsceno: se a guerra civil e toda sorte de dor e destruição que esta provoca, onde cadáveres humanos são abandonados insepultos em meio à população que desesperadamente tenta sobreviver; ou se a exposição de um pênis aos olhos de leitores pudicos que poderiam se escandalizar, dando uma conotação sexual doentia a uma parte de um corpo humano barbaramente torturado e morto. Encaramos com naturalidade a guerra, o genocídio, a desestruturação social e a tortura, mas a nudez que nos cobre desde nosso nascimento é desnaturalizada ao ponto de um pênis supostamente chocar mais que a própria barbárie da guerra. Há aqui, certamente, uma inversão de valores sobre a qual devemos nos questionar e incomodar.

No entanto existem inversões mais sutis, de modo despercebido pela maioria das pessoas do nosso convívio, do tipo: “Coloque pelo menos uma cuequinha, fica mais bonitinho”. Por que tal afirmativa é uma inversão de valores? Tentarei esclarecer em poucas linhas já que longas explicações jamais serão lidas.

Não existe senão um único templo no Universo, e é o Corpo do Homem.
              Nada é mais sagrado do que esta elevada forma.

Curvar-se diante do homem é um ato de reverência feito diante desta
        Revelação da Carne. Tocamos o céu quando colocamos nossas mãos num
                corpo humano.

Novalis (pseudônimo de autor de Frederich Von Hardenberg, 1772. Citado em Miscellaneous Essays, vol II, de Thomas Carlyle).
  
Tanto a pele quanto o sistema nervoso originam-se da mais externa das três camadas de células embrionárias, a ectoderme, logo, o sistema nervoso é uma parte escondida da pele ou, ao contrário, a pele pode ser considerada como a porção exposta do sistema nervoso (1). Isto é muito significativo uma vez que a pele possuindo uma conexão com o sistema nervoso central ou interno, é também responsável pelas nossas percepções do mundo externo em que vivemos.

Muitos estudos têm sido feitos a partir da década de 70 com resultados surpreendentes e admiráveis com funções variadas: a) base dos receptores sensoriais; b) mediadora de sensações; c) barreira contra materiais tóxicos; d) responsável por um papel de destaque na regulação da pressão e do fluxo de sangue; e) órgão implicado no metabolismo e armazenamento de gordura são alguns poucos exemplos que cito. Até mesmo o autor do livro “Tocar” Ashley Montagu fica intrigado dos motivos da poesia se mostre tão desapontadamente estéril. Diz ele:

Foram escritos poemas para celebrar praticamente todas as partes do corpo, mas a pele, inexplicavelmente, parece ter sido negligenciada, como se não existisse. Num artigo intitulado “Hugging Humans” (Humanos Abraçando) ele se queixa do fato de muitos dos mais prezados poetas ingleses permanecerem encapsulados em seus intelectos, mantendo com alta freqüência um relacionamento muito precário com o seu corpo físico.

Para sentir a beleza de todo o corpo humano, é fundamental entender com o que estamos lidando, com uma fronteira cujo funcionamento ainda não totalmente explicável em nossas pesquisas científicas. E se mesmo assim uma simples “cuequinha” for mais bonita que a pele que nos cobre só mesmo chamando Tom Cruise para mais uma missão impossível de resgate, só que não será de uma pessoa e sim da própria identidade de todos nós.

(1)   Ashley Montagu; Tocar

Evandro Telles
03/04/14