sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A VOZ DO NATURISMO QUE NÃO CONSEGUE SER OUVIDA


Em 2009 quando lancei o livro “Verdades Que as Roupas Escondem” , na orelha da capa está assim escrito: “...que o Naturismo precisa ser analisado sob uma nova ótica e estudado à luz de novos valores sociais. Nesses novos valores incluímos a reintegração do homem como parte da natureza, que nunca foi tão destruída como está sendo nos últimos 50 anos. Tivemos essa postura por não nos vermos como parte da natureza.”

Atualmente estamos presenciando mais um desastre ecológico de grandes proporções e sem prazo para recuperar o Rio Doce, com extensão de 853 km que banha os estados de Minas e Espírito Santo, virou um mar de lama espalhando a morte por onde passa.  Segundo alguns biólogos, o que está visível é um problema pequeno diante da previsível quebra da cadeia alimentar.

O poema de Carlos Drummond de Andrade parecia prever o desastre com o “LIRA ITABIRANA”:
I
O Rio? É Doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga
II
Entre estatais
E Multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
 IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

Só não é sem berro, há muito tempo que o Naturismo tem mostrado a importância da harmonia com a natureza com os corpos despidos de preconceitos, de valores não consumistas que redundam na exaustão dos recursos naturais. Indicadores  econômicos só encontram o lado positivo no crescimento do volume de produção e na produtividade do indivíduo. Conceitos e valores como esses começam a ser questionados se representam realmente desenvolvimento, uma vez que esses fatores são medidos em função do dinheiro e não da qualidade de vida da população e têm proporcionado catástrofes da magnitude que estamos presenciando.

Charles Eisenstein, um americano de 47 anos, formado em matemática e filosofia e autor de “Economia Sagrada” onde ele diz que olhamos para a natureza com um olhar de quem apenas vê um monte de coisas e que isso nos deixa muito solitários e com muitas necessidades básicas para satisfazer. Vale a pena ver o vídeo que está disponível na internet onde ele mostra o homem tentando dominar os outros e a natureza.

Eisenstein alerta agora, em 2015,  como somos separados da natureza e da comunidade. Sim, o que o Naturismo já vem propondo de uma forma muito mais simples desde 1903. Criamos uma cultura compromissada com a competição e não com a cooperação, obsessiva pela posse e domínio não só das riquezas naturais, mas também de outro ser humano. Estamos sentindo no próprio corpo as violências que cometemos contra a natureza, e há quanto tempo o Naturismo vem mostrando que somos a própria natureza consciente? Pode ser que seja utópico tentar reintegrar o homem à natureza, nua tal como ela é; pode ser uma voz não ouvida, mas não consigo deixar de expressá-la.

Olhando a figura no início desse texto penso: Será que a espécie humana terá algum dia paz por ter sido tão agressiva? Dúvida que irá permanecer ainda muito tempo.

“Quando olhei a terra ardendo, como uma fogueira de São João. Eu perguntei a Deus do céu, porque tamanha judiação?” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

 

Evandro Telles
27/11/15
               

            

terça-feira, 3 de novembro de 2015

HALLOWEEN E O NATURISMO


Halloween no Brasil é chamado de Dia das Bruxas e sua celebração acontece no dia 31 de Outubro. É uma festa cultural trazida pelos colonizadors ingleses à América. Escoceses e irlandeses adicionaram o bicho papão e as histórias de fantasmas ao folclore da data.
Particularmente divido a história do halloween em dois momentos; antes e depois de ter sido inventado as bruxas. Antes tinha um fundo religioso, tanto é que alguns estudiosos dizem que o nome é uma versão encurtada de “All Hallows Even” (Noite de Todos os Santos). Com o tempo as pessoas passaram a referir-se como “hallowe’en”, e mais tarde simplesmente “halloween”. As bruxas não são como as que conhecemos nos dias atuais, elas foram inventadas, elas eram consideradas mulheres experientes, inteligentes e conheciam alquimia. Na verdade elas eram um paralelo do místico (homem sábio), as bruxas eram respeitadas como mulheres sábias.
Por serem mulheres, constituía um perigo para o poder dominado por homens num sistema patriarcal. Como ressaltou o biólogo-antropólogo Ashley Montagu: “a fêmea, base biológica da vida, é o mais forte dos dois fatores necessários para criar vida, enquanto a variável masculina é mais frágil”. (The Natural Superiority of Women).
Mas como poderia ser diferente? Teríamos que ter a capacidade de entender que as energias e atitudes masculinas e femininas não são antagônicas e sim complementares, se fizermos uma associação de yin e yang (estrutura conceitual que se baseia na ideia de contínua flutuação cíclica, os dois polos que fixam os limites para os ciclos de mudanças) iremos observar que todos os fenômenos naturais são manifestações de uma contínua oscilação entre os dois. Polos arquetípicos que sustentam o ritmo fundamental do universo.
YIN
Feminino
Contrátil 
Conservador
Receptivo
Cooperativo
Intuitivo
Sintético

YANG
Masculino
Expansivo
Exigente
Agressivo
Competitivo
Racional
Analítico

É fácil observar pela lista acima, como a sociedade tem favorecido sistematicamente o yang em detrimento do yin.
No século IX cria-se a figura da bruxa como uma pessoa maléfica, demonizada, que teria que ser eliminada a qualquer custo. Assim, pessoas foram queimadas vivas, torturadas até que confessassem  sua culpa (por favor não leia somente, coloque-se no lugar delas), cujo pecado era de ser uma mulher, uma mulher inteligente. Uma histeria movida, em larga escala, por preconceito e puritanismo.

Não é difícil perceber que ainda se guarda resquícios na sociedade que ainda discrimina o corpo da mulher, mesmo sendo ela privilegiada biologicamente com que a natureza se manifesta de forma tão criativa, mesmo assim os ditames da indústria da moda consegue deixá-la inferiorizada. Para que a história não se repita, valores sociais terão que ser mudados, basta ver o número de agressões sofridas pelas mulheres, tema até mesmo da prova do ENEM.

Repetindo o que disse Fritjof Capra em seu livro “O Ponto de Mutação”: A Sociedade tem favorecido sistematicamente o yang em detrimento do ying. Essa ênfase, sustentada pelo sistema patriarcal e encorajada pelo predomínio da cultura sensualista durante os três últimos séculos, acarretou um profundo desequilíbrio cultural que está na própria raiz de nossa atual crise – um desequilíbrio em nossos pensamentos e sentimentos, em nossos valores e atitudes e em nossas estruturas sociais e políticas.

O NATURISMO, por ser um estilo de vida que não cabem preconceitos e nenhuma espécie de divisão, nem mesmo entre solteiros e casados em que algumas áreas insistem permanecer contra a própria filosofia nudista/naturista, pode colaborar com novos valores, só é preciso entender as implicações da nudez humana.

Num diálogo com um naturista transcorreu assim:
Ele: Não gosto de ver chegando homens solteiros, não me sinto bem. Nem eu mesmo gosto de vir desacompanhado;
Eu: Mas...
Ele: Sei – não deixando nem concluir a minha opinião – não está correto, mas é assim que me sinto.

Uma das implicações do Naturismo é que nos deixa exposto para nos auto-avaliarmos diante dos nossos próprios preconceitos, algo que temos por obrigação melhorar. Assim, o Halloween deve ser lembrado sempre, mesmo proveniente de outras culturas, que a história não poderá ser repetida.


Evandro Telles
03/11/15