terça-feira, 21 de outubro de 2014

ASILO NATURISTA



 Bertrand Russell, nascido em 1872, um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos do século XX, recebeu o Nobel de Literatura em 1950 em reconhecimento pelos seus escritos e pela luta dos ideais humanitários e pela liberdade de pensamento. No ano de 1939 foi nomeado pela Faculdade Municipal de Nova York (College of the City New York) para lecionar no período de 01/02/1941 a 30/06/1942. Tão logo foi divulgada a sua nomeação surgiram diversas denúncias inverídicas e o juiz da cidade determinou a revogação da sua contratação sem lhe dar a oportunidade de contestação. Uma dessas denúncias era a de que Russel dirigia uma colônia Nudista na Inglaterra, seus filhos desfilavam nus. Ele e sua esposa desfilavam nus em público e diziam que esse homem, que tinha seus 67 anos, era adepto da poesia devassa. É de se observar que esse fato ocorreu antes do Naturismo/Nudismo se apresentar em terras brasileiras.

Tal difamação presumivelmente derivada do que ele escreveu:

“O sol sobre a pele exposta tem efeito extremamente saudável. Além do mais, qualquer pessoa que já tenha visto crianças correndo de um lado para o outro a céu aberto, sem roupas, deve ter se surpreendido com o fato de que elas mantêm um melhor equilíbrio e se movem com mais liberdade e mais graça do que quando estão vestidos. A mesma coisa se aplica aos adultos. O lugar adequado para a nudez é ao ar livre, ao sol e na água. Se nossas convenções permitissem isso, logo a nudez deixaria de ter qualquer apelo sexual; todos nós teríamos melhor equilíbrio, seríamos mais saudáveis, devido ao contato do ar e do sol com a pele, e nossos padrões de beleza coincidiriam mais com os padrões de saúde, já que estaríamos também preocupados com o corpo e seus membros, e não apenas com o rosto. Nesse sentido, a prática dos gregos deveria ser louvada”.

Isso se deu numa época em que não tínhamos ainda tantos estudos científicos que atestam a prática do Naturismo como saudável do ponto de vista físico e psíquico. Atualmente com um leque de informações variadas (da minha parte com 3 livros publicados e semanalmente divulgados nos encontros literários) deveríamos supor que o número de praticantes do Naturismo crescessem pelo menos na mesma proporção dos habitantes do país ou no mínimo despertasse a curiosidade de conhecer esse estilo de vida. Nem uma coisa nem outra.

A Federação Internacional de Naturismo (INF) já demonstrou algumas preocupações com relação ao envelhecimento do Naturismo, no Brasil então nem se fala. Alguns países europeus com extensão territorial muito menor que o nosso e com áreas maiores dedicadas à prática do Nudismo. De uma coisa tenho certeza, é cultural. No entanto muitas outras pesquisas, inclusive acadêmicas, poderiam ser desenvolvidas a partir dessa constatação. Na medicina (já que o naturismo surgiu pesquisando grupos na recuperação da saúde) será que realmente tem algum efeito benéfico ou é um placebo? Na psicologia, o que muda no comportamento daqueles que praticam? Na administração, será que faltam investidores? No turismo, se em muitos países é considerado uma fonte de renda para a sua população, por que aqui não? Na biologia, é genético de um povo ou é um condicionamento educacional? E por aí vai afora tantos trabalhos que poderiam ser desenvolvidos pelos nossos acadêmicos! No site da Federação Brasileira www.fbrn.com.br na biblioteca virtual poderão ser encontrados alguns trabalhos recentes muito interessantes.

O naturista é um rebelde em potencial. Ele oferece ao mundo uma mudança de consciência, e se a consciência muda a estrutura da sociedade não pode deixar de mudar. Não se trata de uma revolução já que nenhuma revolução jamais conseguiu mudar os seres humanos. A revolução francesa não levou a nada, a revolução russa não levou a nada, a revolução chinesa não levou a nada, até mesmo a revolução de Gandhi fracassou.

A importância da preservação do Naturismo é que sem a liberdade do corpo também não teremos a liberdade de pensamento tanto defendido por Bertrand Russell. Não haverá poesia, não haverá uma filosofia autêntica sem liberdade porque essa liberdade é a nossa própria natureza, nascemos com ela e cada vez que há o distanciamento dessa natureza mais o ser humano se agride e provoca violências. Não é sem propósito que todo humanista olha diferente para o corpo e defende também o desarmamento. Com Russell não foi diferente, passou os anos 50 e 60 envolvido com causas políticas, principalmente relacionadas com o desarmamento nuclear e a oposição à Guerra do Vietnã.

Nem todo naturista tem a consciência do que ele representa e da sua responsabilidade porque tudo é um processo que ocorre gradativamente. O próximo Congresso Brasileiro previsto para Janeiro na Colina do Sol no Estado do Rio Grande do Sul terá como tema “Não basta estar naturista, tem que ser naturista”. Há um erro no tema, mas atribuo a uma deficiência da nossa linguagem; ainda assim consigo entender a intenção, o que já acho muito válido.

Mas se os nossos jovens ficarem apáticos atrás dos seus celulares e não houver um crescimento quantitativo e qualitativo no Naturismo, em poucas décadas restará somente os asilos naturistas.

Sugiro para o próximo Congresso a inclusão da pergunta: O que podemos fazer para mudar uma consciência? Pode ser que a resposta esteja no próprio tema em questão, “assuma o Naturismo com orgulho e conhecimento de todas as suas implicações”, MAIOR LIBERDADE, MAIOR SERÁ TAMBÉM A RESPONSABILIDADE.


Evandro Telles
21/10/14