Será
que podemos dizer que a nudez da arte do fotógrafo Spencer Tunick tenha algo a
ver com o movimento nudista/naturista? E o topless? Termo originado do inglês
que significa literalmente “sem a parte de cima” designando a situação na qual
a mulher fica com os seios à mostra e não está vestindo nada da cintura para
cima. No final do mês de dezembro foi
marcada pela internet uma manifestação chamada “toplessaço” onde, segundo
informações das organizadoras tinham 4000 adesões. Compareceu meia dúzia.
Pelas
fotos apresentadas nos meios de comunicação, não reconheci nenhuma das pessoas
que fossem praticantes do Nudismo/Naturismo, pelo menos nunca fui procurado por
elas para participarem do Grupo ao qual sou dirigente, nem mesmo para
entenderem as propostas defendidas pelo estilo de vida nudista/naturista.
O
“Toplessaço” surgiu de um incômodo da repressão ao corpo feminino. Inaceitável
que o seio à mostra seja um caso de polícia. Ótimo, não estou contra essa
manifestação, mas daí associar com o Nudismo/Naturismo é algo muito distante. O
que elas reivindicam, há muitos anos (desde 1900) a filosofia nudista/naturista
incorpora em seus contextos de forma muito mais abrangente, e ainda assim não
compreendida. A Dissertação de Mestrado de João Paulo Cordeiro Reis apresentada
na Universidade do Rio de Janeiro em 2008 diz ele:
Mais
do que uma prática de lazer, portanto, o naturismo insere-se num movimento de
crítica da cultura moderna, investindo na construção de novos valores e
percepções sobre os seres humanos e sobre o mundo. Inspirados num imaginário
sobre o indígena como um ser perfeitamente integrado à natureza e ao convívio
social, os naturistas articulam diferentes elementos na construção de um ideal
de vida e plenitude. À indiferença das relações entre as pessoas, ao hedonismo
fútil da sociedade de consumo, à cultura da vergonha e da culpabilidade
exaltam-se valores como o respeito mútuo, a aceitação da diferença, a
fraternidade partilhada e a aceitação do corpo e de si.
Encarada
pelos naturistas como um dos principais tabus das sociedades ocidentais, a
nudez coletiva é percebida como uma prática dotada de significados sociais
específicos, cuja principal característica seria o seu caráter transformador em
relação ao indivíduo e ao grupo. Para os naturistas, a nudez coletiva pode ser
percebida como um operador material e simbólico, modificando percepções,
concepções e condutas sociais.
Esses
argumentos de João Paulo explicam o motivo da falta da presença do
Nudista/Naturista no “Toplessaço”. Não interessa ser vitrine para pessoas desprovidas
da Cultura ao Corpo Livre (FKK sigla na língua Alemã), e desconhecedores das
formas do corpo feminino. Daí surge a significativa diferença entre o que é
pretendido pelos nudistas/naturistas do que é defendido pelo “toplessaço”. De
maneira alguma estamos interessados na aprovação do outro do nosso corpo em
função dos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade, estamos sim em busca
na nossa própria aceitação como indivíduos imperfeitos, únicos, diferentes na
aparência e iguais na essência. O “toplessaçõ” busca a aceitação dos que estão
de fora, o nudista/naturista faz uma viagem para dentro de si mesmo.
Tal
como o poeta que às vezes ainda meio acordado e meio dormindo na madrugada
escreve a poesia no seu silêncio, deixa manifestar a sua fluidez segundo a sua
própria natureza; assim os nudistas/naturistas sem se importar com seus
defeitos físicos entregam seu corpo à própria natureza. Nunca busquei aceitação
do que escrevo de A, B ou C se isso acontecesse perderia o meu silêncio, a minha
identidade e estaria negando os meus valores. Assim, os nudistas/naturistas
meio parecidos com os poetas, simplesmente deixa fluir. A nudez do
Nudismo/Naturismo é fluídica e não por imposição, nem pode ser de outra forma
já que semelhante a natureza, nada é estático, tudo muda continuamente.
Mesmo
que o “Toplessaço” não tenha tido uma presença significativa, mas mostrou que
muitas mulheres tiveram vontade de participar e ficaram temerosas de se exporem,
o que também é compreensível. Representa uma atitude louvável, provocando
reflexões e põe o dedo na ferida: Se a sociedade não se incomoda com as
agressões nos ringues, nos campos de futebol e nos noticiários sobre a
violência, por que cria um problema quando o corpo está exposto se a ninguém
agride? O nome para isso é “hipocrisia”, coisa que já estamos bastante
acostumados a ver, parece tão difícil olhar o corpo humano com naturalidade nos
dias atuais! Algo para ser pensado.
Evandro
Telles
14/01/14