Hoje,
21 de fevereiro, Dia Nacional do Naturismo, data do nascimento de Luz Del Fuego
(Dora Vivacqua – 21/02/1917), precursora do Naturismo brasileiro. Em 2017 faria
100 anos se viva estivesse. Com muita propriedade, Paulo Pereira em seu livro
“Corpos Nus” escreveu: “Dora está fora da jurisdição desse mundo”.
Uma
mulher à frente do seu tempo, corajosa, amiga dos animais e culta. Quem quiser
conhecer um pouco mais da sua história poderá ler também os livros “A Bailarina
do Povo” de Cristina Agostinho e “A Verdadeira Luz Del Fuego” de Thiago de
Menezes. Aproveite também para ler o belíssimo cordel “A Vida de Luz Del Fuego”
de uma inspiração do amigo Jorge Bandeira que não tenho palavras para descrever,
incluo no final desse texto.
Dos
anos 50 até os dias atuais o Naturismo teve avanços significativos, não em
termos quantitativos, mas muitos trabalhos foram desenvolvidos em faculdades,
livros, cursos pela internet, participação em encontros literários,
informativos virtuais, entrevistas em jornais impressos e a recente rádio
naturista. Nenhuma pessoa letrada pode afirmar que desconhece a filosofia
naturista, mas segundo o último censo demográfico somos aproximadamente 194
milhões de habitantes e aqui temos também um número significativo que não faz a
mínima ideia do que representa o movimento naturista no mundo.
No
artigo que enviei para XIV Congrenat disse que “Ser Naturista” é aquele que
busca o conhecimento e entenda a evolução da sua própria natureza. Quis dizer
com isso que existe a necessidade do conhecimento científico, mesmo que a nossa
miopia seja perene, o comodismo não ajudará em nada às futuras gerações. Por
esse motivo tenho incentivado os jovens a conhecerem o Naturismo e entenderem o
que diz o amigo João Olavo: “Naturismo pode ser a transformação que o mundo necessita, pois
privilegia o cuidado com o meio ambiente, o combate ao capitalismo, o
egocentrismo, exibicionismo e o consumismo exagerado, sendo o Naturismo o
antídoto dos males do mundo porque nos ensina a viver de maneira simples em
harmonia com a natureza." Sábias palavras!
Todos nascem livres, poucos morrem do
mesmo modo.
A
disparidade entre o número da população dos praticantes do Naturismo é um
indicador forte do quanto as pessoas ainda estão presas aos seus conceitos
sociais, o quanto ainda o corpo é tratado como algo que deve ficar escondido e,
na realidade, esconde um lado psicológico assim diz Dr John Veltheim em seu
artigo “Nus por baixo da roupa”: Nos
últimos séculos, as pessoas desenvolveram uma dependência cultural da roupa. As
vestes tornaram-se uma máscara e um adereço de suporte para tapar falhas,
muitas vezes percebidas, de personalidade e de caráter.
Devemos
comemorar o Dia do Naturismo como uma conquista de liberdade, não somente de
uma liberdade corporal, mas principalmente mental. Uma luz que se conquista das
barreiras impostas por uma cultura que marginalizou o corpo. Como nos diz
Joseph Pearce no seu livro “O Fim da Religião e o Renascimento da
Espiritualidade”: O Conformismo cultural
ameaça a individualidade, a mente capaz de pensar para além das coerções tanto
de nossa herança animal quando da cultura e seus efeitos globais. Só uma mente
individual pode retomar o impulso evolutivo da vida e criar independentemente
dos revestimentos e restrições artificiais que a cultura impõe. Nós, seres
humanos, fomos feitos para essa individualidade perdida e ansiamos por ela.
Evandro
Telles
21/02/15
A VIDA DE LUZ DEL FUEGO
PIONEIRA
DO NUDISMO NO BRASIL
J.
Bandeira
TRANSLÚCIDA
LUZ
O
Louco:
“Dia
virá em que não haverá tecelões e ninguém para usar roupas. Todos nós ficaremos
nus sob o Sol”.
(primeira
fala deste personagem no início do texto “Lázaro e sua amada”, de Kahlil
Gibran, em sua única obra escrita para o Teatro).
“Nu
saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá” (Livro de Jó 1-21)
“Nu
eu nasci, e nu me encontro: não perco nem ganho” (Miguel de Cervantes)
ESTE
CORDEL É DEDICADO A JOÃO CARLOS e EDVAL
FONSECA.
1
Amigos de todo Brasil
O relato que vou
contar
Dá conta de certa
mulher
Corajosa no seu lutar
Batalhou por uma
nobre causa
Sua bravura foi
exemplar
2
Ela era idealista
Disso eu tenho a
certeza
Percalço encontrou na
vida
E nela não teve moleza
Lutou pelo nudismo
Entrou na causa com
firmeza
3
Nasceu como Dora
Vivacqua
Há muito tempo atrás
Em 21 de
Fevereiro de 1917
Não esqueço a data
jamais
Quando nasceu Luz Del
Fuego
Para o nudismo e seus
ideais
4
Era uma capixaba
Natural do Espírito Santo
Da cidade do Rei
Roberto Carlos
Dois artistas do
mesmo canto
Dora iria ser Luz Del
Fuego
E como Roberto
causaria espanto
5
Cachoeiro do
Itapemirim
Era sua cidade natal
Amava sua irmã
Mariquinhas
Que para ela não
tinha igual
Mariquinhas era musa
de Drummond
O nosso poeta genial
6
No começo dos anos 20
A família Vivacqua se
muda
Escolhe Belo
Horizonte
Para continuar sua
luta
A nossa futura Luz
Começa a ficar
desnuda
7
Foi necessária uma
ajuda, que
Um serpentário lhe
inspirasse
Para que Dora Vivacqua
Das serpentes se
aproximasse
E seus posteriores
números
E musicais, a todos
arrebatassem
8
Conheceu nossa menina
O Instituto Ezequiel
Dias
Seu passeio predileto
Muitas vezes foi com
as tias
Vislumbrar aquelas
serpentes
E nos seus olhinhos
brotavam alegrias
9
A bolsa de Nova York
quebrou
Era 1929, ano do
famoso Crack
O capitalismo pedia
socorro
Quem for pobre que se
esmague
Os Vivacqua voltam
pra Cachoeiro
Cidade que só possuía
um parque
10
Etelvina, mãe de Luz
Ficou perto de
Antônio, seu marido
O pai de nossa futura
Luz
Era um homem
embrutecido
E jamais permitiu às
filhas
Que ficassem nuas,
sem vestidos
11
Dora Luz entra na
adolescência
Demonstrando um gênio
forte
Não agüentava
desaforos
E também tinha muita
sorte
Ordens e opiniões só
aceitava
Se na sua vida não
fizessem cortes
12
Mesmo jovem já andava
nua
E escandalizava toda
meninada
No quintal da casa
brincava
Como Deus a fez,
pelada
Não gostava de usar
roupas
Que ficavam dias sem
serem lavadas
13
Em agosto de 32, seu
pai Antônio
É assassinado por
inquilinos de seus terrenos
A pacata Cachoeiro
estava perigosa
A morte não os deixou
serenos
Etelvina volta para
Belo Horizonte
Buscando para família
ares amenos
14
Dora Vivacqua, futura
estrela
Sente-se sufocada com
tantos atritos
Sua vida seria na
cidade maravilhosa
Onde ela poderia
soltar seus gritos
E pela liberdade da
nudez
Planejar inclusive
seus escritos
15
Sua meta era o Rio de
Janeiro
Que ela não tirava da
visão
Apesar de seus poucos
15anos
Pensava no Rio em
chegar de avião
Só sossegava quando a
cabeça
Sonhava com a
Guanabara, sua paixão
16
Dora odiava usar
sutiã
Ela gostava era de
estar nua
Pela praia de
Marataízes
Improvisava as roupas
suas
E isso quando o
biquíni
Não existia, não se
via nas ruas
17
Chega na Capital
Federal
Sob a tutela de seu
irmão Attilio
No Rio Dora se
transforma
Adorava jogar seus
brilhos
A gênese do nudismo
no Brasil
Começa a assentar
seus trilhos
18
Com 19 anos vive um
romance
Com tal José Mariano
De família importante
no Rio
Coisa que não agradou
seu mano
Foi por isso que
Attilio, seu irmão
A mandou de volta
para Minas, sem engano
19
Em Minas uma desgraça
acontece
Sua irmã Angélica,
atônita
Flagra seu marido
Carlos com Dora
Numa visão que lhe
deixa afônica
Ele bolinava Dora, a
seduzia
Numa cena forte, crônica
20
A família fica a
favor de Carlos
E considera Dora
mentirosa
No Hospital
Psiquiátrico Raul Soares
A confinam de maneira
dolorosa
É tida como
esquizofrênica
E por dois meses sua
vida ali será pavorosa
21
Preocupado com a irmã
Dora
Depois que ela saiu
do internamento
Seu irmão Achilles
lhe faz um convite:
Vá para fazenda de
Archilau ter novo alento
Lá você vai respirar
um ar puro
Vai descobrir novos
encantamentos
22
E na fazenda de seu
outro irmão
Dora aparece como Eva
Coberta somente com 3
folhas de parreira
Caminhando
naturalmente na selva
O filho do
administrador a viu nua
E nem precisou se
esconder atrás da relva
23
Aquilo Archilau não
aceitou
E por ele Dora foi
repreendida
Ela não contou duas
vezes
Jogou-lhe um vaso na
cabeça partida
Aquele ato trouxe-lhe
conseqüências
E lá vai Dora pra
outro hospício, ressentida
24
Agora nossa Dora
Vivacqua
Que será conhecida
como Luz Del Fuego
É internada no famoso
hospício
Casa de Saúde Dr.
Eiras, no desassossego
Seu espírito rebelde
produzia vôos
Imprevisíveis como os
do morcego
25
Dessa vez é sua irmã
querida
Por quem tem uma
profunda admiração
Que resgata Dora do
hospício
Levando-lhe para
outra estação
Em sua cidade de
Cachoeiro
Mas Dora foge
desesperada e chega ao Rio num lotação
26
Dora no Rio de
Janeiro
Reata sua relação com
Mariano
Sem oficializar sua
união
Era livre e não
queria nenhum dano
Para sua vida pelo
casamento
Não queria entrar
pelo cano
27
Tentou ser
pára-quedista
Porém Mariano a
impediu
Aceitou e viu no
pedido dele
Uma demonstração de
amor juvenil
Como aquele de ideais
De paixões, de uma
vida pueril
28
O amor furacão de
Mariano
Só agüentou algumas
estações
Até que Dora resolve
entrar na dança
Que todos sabem era
uma de suas paixões
O ciúme doentio de
Mariano
Começará a lhe trazer
aporrinhações
29
Mas ela não desistiu
da dança
E na Academia Eros
Volúsia
Continuou seu curso
brilhante
Dançando com muita
astúcia
Não deu a mínima ao
ciúme de Mariano
Era uma leoa por
dentro de um ser de pelúcia
30
E assim acontecia
Na vida desta de nome
Dora
Porém Luz Del Fuego
irá chegar
E é pra já e agora
Uma nova fase em sua
vida
De Dora o nome ela
joga fora
31
Era o ano de 1944
Faltando mais um para
a Guerra acabar
Que um nome começa a
aparecer
Luz Divina espera triunfar
E no circo Pavilhão Azul
O público irá lhe
aclamar
32
Atenção, senhoras e
senhores
Vejam só que mulher
exótica
Carrega suas
incríveis serpentes
Vejam, isso não é
ilusão de ótica
É a corajosa
bailarina Luz Divina
Com cobras
verdadeiras e não robóticas
33
Era a maior atração
do circo
Nas noites de
espetáculos
Luz garantia um bom
público
A casa lotava sem
obstáculos
Para ver Luz e suas
jibóias
Que fazia inveja aos
homens másculos
34
Era toda encantamento
A sua dança
provocante
Na companhia de duas
cobras
Seu número ficava mais
excitante
Cornélio e Castorina,
ora vejam
Eram os nomes dados
àquelas rastejantes
35
Quando termina a 2A
Guerra Mundial
Dora anotava tudo em
seu diário
Suas experiências
pessoais, viscerais
Dariam boas matérias
para um noticiário
Era o começo do que
viria a ser
Um livro que não
tirou de seu imaginário
36
Sim, podem ter
certeza
Nossa artista era
sedutora
Seu livro “Trágico
Blecaute”
Foi lançado por uma
editora
Mulher de muitas
virtudes
Nossa nudista maior
era escritora
37
Em 1947, por sugestão
de um amigo
Que era palhaço e se
chamava Cascudo
Luz Divina virou Luz Del Fuego
“Nome estrangeiro
atraía público graúdo”,
Tanto insistiu
Cascudo com Luz
Que seu nome
artístico teve um novo atributo
38
Luz Del Fuego era o
nome
De um batom argentino
novo
Que apareceu no
Brasil nessa época
De brilho forte e
vistoso
Era chamativo como
nossa estrela
Que foi artista num
período majestoso
39
O fogo era
representativo
Pois sua vida era uma
labareda
Sua nova opção de
vida
A fez conhecida nas
alamedas
A Vivacqua “água
viva”
Deu lugar ao Fuego e
sua destreza
40
Trabalhando em vários
circos
Luz os ajudou com as
“casas cheias”
Livrando da falência
muitos deles
Fez muita gente
ganhar o seu “pé de meia”
E assim ia levando a
vida
De artista nos palcos
tecendo teias
41
E como boa fiandeira
Conseguiu um bom
contrato
No Teatro Follies
Onde representou mais
de um ato
Naquela Copacabana
ensolarada
Luz viu nascer seu
estrelato
42
Um garoto de 12 anos
Era responsável pelas
falas e apontamentos
Que Luz jamais
decorava por inteiro
Ela improvisava sem
ressentimento
O nome deste menino?
Daniel Filho, ele mesmo
Que na Rede Globo foi
um grande talento
43
A imprensa alardeou
O espetáculo “Mulher
de todo mundo”
Luz Del Fuego era
sensação
Sua família sentia no
fundo
Que toda essa fama de
artista
Para seus inimigos
poderia virar um trunfo
44
Seu irmão Attilio era
senador
E esse “ba-fa-fa” não
era bom
Ter uma irmã que
dançava nua
Em seus ataques esse
seria o tom
Esses políticos nunca
entenderiam
O que é uma artista
ter um dom
45
Iluminar e dar
alegria ao povo
Seria a missão dessa
bailarina
Que em seus números
ficava seminua
O braço do povo seria
sua sina
E com isso seu irmão
senador
De bondoso passou a
ranzinza
46
Attilio não perdeu
tempo
Para abafar qualquer
reboliço
E do livro de Luz
“Trágico Blecaute”
Da edição primeira
deu um sumiço
Queimando mais de mil
exemplares
Parecendo um
inquisidor suíço
47
O diário escrito por
Luz
Trazia fatos
comprometedores
Como a sedução do
cunhado
Que de Luz foi uma
das dores
Sem contar uma assumida
prostituição
Que pelo livro criava
dissabores
48
Contando esta
história
Vocês irão me dar
razão
Uma pessoa só vence
na vida
Com amor e dedicação
Mesmo que seja pelo
nudismo
Que no Brasil sofre
discriminação
49
Os anos 50 estão
chegando
E nossa artista se
consolidando
A naturalista e
vegetariana
A passos largos vai
andando
Criando fama e
admiração
Também seus inimigos
vão tramando
50
Contra ela falam de
tudo
De depravada a pessoa
devassa
E nisso essa mulher
de fibra
Esperneava e achava
graça
Suas idéias eram
originais
Sua arte a todos
abraça
51
Com o lançamento de
seu livro
O já falado “Trágico
Blecaute”
Suas intervenções
serão lidas
Começarão novos
embates
Os defensores da
falsa moral, puritanos
De Luz farão o alvo
de seus disparates
52
Para nossa defensora
O nudista é aquela
pessoa
Que acredita que as
roupas
Com toda pompa de
quem a veste ressoa
Não significa
moralidade
E desta falsa visão
ela caçoa
53
Não acha que o corpo
humano
Que é considerado por
muitos profano
Tenha partes
indecentes
Que se precisam
esconder com pano
E disso estava tão
convicta
Que não demonstrava
desengano
54
No Brasil daquela
época
Onde até o maiô era
imoral
Imaginem vocês,
leitores
O que Luz deve ter
feito para ganhar moral
E fazer com que o
nudismo
Entrasse na discussão
nacional
55
Começou então Luz Del
Fuego
A reunir um grupo de
amigos
Na praia de Joatinga,
deserta
Onde praticava
naturismo aos domingos
Levava alguns cães
para proteção
E seus amigos Lana,
Gilda e Domingos
56
Miss Lana e Miss
Gilda
Eram transformistas
assumidos
Domingos Risseto era
artista
De Luz eram muito
queridos
Estes pioneiros do
nudismo
Eram naturistas
aguerridos
57
Para garantia contra
os abelhudos
Que perturbam sempre
os pelados
Levava também suas
serpentes
Cornélio e Castorina
sempre ao seu lado
Para evitar um maior
atrevimento
Dos que acham o corpo
humano um pecado
58
Apesar de todo
cuidado
A polícia sem engano
Vez por outra levava
A todos nus num ato
insano
Para delegacia de
bons costumes
Sem terem feito nada
de leviano
59
Seu segundo livro é
lançado
Chama-se “A Verdade
Nua”
O título já dizia
tudo
O nudismo é uma
bandeira sua
Ele lhe dá evidência
Seu nome de novo
ganha as ruas
60
É um livro
autobiográfico
Feito com toda
dedicação
As bases da filosofia
naturista
Estavam entrando em
ação
Até o integralista
Plínio Salgado
Ao posfácio deu sua
contribuição
61
Foi outra obra
perseguida
Sofrendo com a
censura
As autoridades a
bloquearam
Levantando suas
injúrias
Ninguém achava o
livro
Só no reembolso sua
compra era segura
62
Já conhecida no
Brasil inteiro
Luz levava todos ao
delírio
Era o tempo das
vedetes
Mulheres que aos
olhos eram colírio
Mara Rúbia, Virginia
Lane e Dercy Gonçalves
Todas figuras de
intenso brilho
63
No mundo das vedetes
Luz Del Fuego
brilhava
Foi na época de
Elvira Pagã
Sua maior rival, que
admirava
Época de grandes
espetáculos
Nos anos 50 ninguém
as vaiava
64
Foi capa de revista
famosa
A LIFE dos Estados
Unidos
Todos queriam sua
presença
Seu cachê era
garantido
Caprichava nas
apresentações
Onde seu corpo era
exibido
65
Sua vida era agitada
E disso tirava
proveito
Nunca se amedrontava
Peitou delegado, juiz
e até prefeito
Tudo lutando pela
causa
Do nudismo que para
ela era perfeito
66
Seus irmãos se davam
bem
Na política, comércio
e no social
E achavam que Luz Del
Fuego
Manchava seus nomes
como um vendaval
Que passava
destruindo tudo
Até mesmo o baluarte
da falsa moral
67
Attilio como senador
Era o que mais se
sentia difamado
Por ser irmão da
famosa artista nua
Os adversários o
haviam caçoado
Perdeu uma eleição
por isso
A oposição o havia
molestado
68
Diziam que sua irmã
Era uma mulher do
demônio
Que dançava nua nas
ruas
Acabando com o
matrimônio
Attilio ficou furioso
E perseguiu Luz e seu
patrimônio
69
Com tanta perseguição
Luz resolveu revidar
Antes de ser
surrupiada
Nua ameaçou dançar
Nas escadarias do
senado
Fazendo Attilio se
calar
70
Em matéria de
dinheiro
Falava ironicamente
de seu jeito
Que seu banco
preferido
Tinha o nome de
preconceito
E era mantido por
seus irmãos
Que mazelas a tinham
feito
71
Enquanto isso
acontecia
Luz continuava na
vida animada
Cercava-se de amigos
gays
Seus shows eram
festas lotadas
Sempre com seu
parceiro de palco
Domingos Risseto,
camarada
72
O grande feito
político
Na vida desta figura
Foi criar um partido
nudista
Que seria banido pela
censura
O Partido Naturalista
Brasileiro
Que no nudismo tinha
lisura
73
Angariava fundo ao
PNB
Dançando nas
escadarias
Do grande Teatro
Municipal
Seminua ouvindo
baixarias
Dos falsos puritanos
de plantão
O que só aumentava
suas estripulias
74
O PNB não durou muito
Nem mesmo foi
registrado
Graças à ação de
Attilio
Seu irmão desalmado
Que tudo fez para o
Partido
Seu registro ter sido
negado
75
O legado do naturismo
Filosofia e ética de
vida
Onde todos estão nus
A nudez é coletiva
Faz com que Luz
Tivesse uma nova
iniciativa
76
E Luz não estava
parada
Mesmo com o fim do
partido
Seduziu o Ministro da
Marinha
Um velho seu
conhecido
Os passos estavam
dados
Para sua ilha de nudismo ter surgido
77
Ganhou assim a cessão
Da Ilha Tapuama de
Dentro
O porto seguro do
nudismo
Que para os pelados
era um alento
Ali o nudismo
brasileiro
Existia com bons
ventos
78
Logo a Ilha foi
batizada
Como Ilha do Sol, um
paraíso
Nome dado por Luz Del Fuego
Que do nudismo fez um
atrativo
Todos por ali sabiam
Ficar nu na Ilha não
era ato apelativo
79
A Ilha do Sol ficou
famosa
Virou atração na
Cidade Maravilhosa
Mesmo não fazendo
parte
Do turismo, era não
oficiosa
Por ali passaram as
estrelas
Com suas famas
luxuosas
80
Lendas do cinema
americano
Passaram pela famosa
ilha
E só entravam nela
nus
Mesmo que fossem em
família
Dos velhos às
crianças
Andavam pelados em
suas trilhas
81
No final dos anos 50
A ilha teve seu
apogeu
Recebendo inúmeros
sócios
De famosos artistas
àqueles que ninguém conheceu
Suas festas, reuniões e filmagens
A prática do nudismo
fortaleceu
82
De Errol Flynn
A Lana Turner, astros
A todos acolhia
Suas roupas não
deixavam rastros
Ficavam nus com
alegria
E ainda faziam bons
gastos
83
Ava Gardner belíssima
Tyrone Powell
magistral
Conheceram a Ilha do
Sol
E para lá levaram
alto astral
Viveram nus bons
momentos
Acharam o local
monumental
84
César Romero aportou
Glenn Ford caminhou
Andaram nus na Ilha
do Sol
A imprensa até
noticiou
Luz estava feliz
Seu sonho se realizou
85
Até Brigitte Bardot
Na época uma musa do
cinema
Esteve nua na ilha
O que pra ela não foi
problema
Era uma nudista
conhecida
Ficar nua não era um
dilema
86
O fato mais pitoresco
Aconteceu com Steve
MacQueen, o ator
Que levou um baita
susto
Ficando de toda cor
Acordando com a
Jibóia de Luz
Em cima de seu peito
com pavor
87
Já com a loira atriz
Jayne Mansfield
exibida
Aconteceu uma
rejeição
Pois ela não quis
ficar despida
E Luz não abriu
exceção
Deu-lhe um adeus de
despedida
88
Os anos 60 chegavam
E Luz estava envelhecendo
Seus amantes ricos
influentes
Aos poucos foram
desaparecendo
Só lhe restando a
Ilha do Sol
E poucos nudistas por
lá aparecendo
89
Começou então o
envolvimento
De Luz com Júlio
pescador
Que era forte e
analfabeto
Ficando ao seu dispor
Os dias de glória de
Luz
Perdiam o seu
esplendor
90
O último amor de Luz
Foi um guarda
portuário
Chamado Hélio Luís da
Costa
Homem de hábitos
vários
Deixando os poucos
amigos de Luz
Preocupados e muito
temerários
91
Os amigos receosos
De algo acontecer
Com Luz, sozinha na
ilha
Sem ninguém a lhe
socorrer
Se acontecesse algo
grave
O que não demorou a
se suceder
92
Que os amigos nada
temessem
Luz falava
categoricamente
“Sou uma Luz que não
se apaga”
Dizia de forma
convincente
E assim foi levando a
vida
Não dava trela ao
perigo eminente
93
Era o ano de 1967
O trágico fim se
aproximava
Pois sua morte foi
tramada
Luz seria assassinada
Em 19 de julho deste
fatídico ano
E a polícia não pôde
fazer nada
94
A vingança foi a
causa
De sua cruel morte
Junto com seu caseiro
Edgar
Luz não teve nenhuma
sorte
Dois irmãos
assassinos
Nos corpos deixaram
profundos cortes
95
Os nomes de seus
algozes
Resolvi deste cordel
omitir
Pois não quero que os
mesmos
Fiquem impressos ao
porvir
Suas ações fizeram um
luto
Que o nudismo custou
suprimir
96
Depois de ter sido
“convertido”
Um dos assassinos
escreveu
Um relato descarado
De tudo que na Ilha
aconteceu
Naquele trágico
episódio
Onde Luz Del Fuego faleceu
97
Seu legado inconteste
No nudismo foi
fortalecido
E depois da ditadura
Seus trajetos foram
reconhecidos
Da praia do Pinho a
Tambaba
Novas áreas de
nudismo têm surgido
98
No Rio temos Abricó
Em Floripa a Galheta
Todas áreas de
naturismo
Onde estar nu não dá
“treta”
A vida de Luz Del Fuego
Serve de exemplo e
grandeza
99
Passando por
Massarandupío
Barra Seca e outros
locais
E ainda recantos e
clubes
Onde o naturismo
possui um cais
Um lugar para aportar
Projetar seus ideais
100
O nudismo tem sido
acolhido
Até na floresta
amazônica
Lá existe o GRAÚNA
Grupo que faz do
naturismo sua tônica
Que busca nas origens
indígenas
Uma nudez social
orgânica
101
De algo temos certeza
Em relação ao
naturismo organizado
Sua força está
crescendo
A Lei Gabeira está ao
seu lado
Garantindo a todo
naturista
O direito de não ser
importunado
102
Termino aqui este
relato
Da trajetória desta
artista formosa
Que do nudismo foi
pioneira
E teve vida gloriosa
A todos os meus
leitores
Deixo um abraço e uma
Luz vistosa.
FIM
Manaus, Março e Abril
de 2005.
Bibliografia de
referência
AGOSTINHO,
Cristina. Luz Del Fuego: a bailarina do povo. RJ, Best Seller, 1992.
Site
http://memoriaviva.digi.com.br acessado em 27/3/2005.
Conheça
o NATURISMO AMAZÔNICO:
No
Orkut procure a comunidade: NATURISMO EM
MANAUS.
Graúna-Am
(Grupo Amazônico União Naturista)
O
PIONEIRO DO NORTE NATURISTA NA NET!
Observação:
este cordel foi publicado pela Editora Acauã no ano de 2005, sendo lançado com
o patrocínio da SONATA, no Estado da Paraíba.
Atualizado
em 16 de janeiro de 2011.