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domingo, 22 de fevereiro de 2015

DIA NACIONAL DO NATURISMO


Hoje, 21 de fevereiro, Dia Nacional do Naturismo, data do nascimento de Luz Del Fuego (Dora Vivacqua – 21/02/1917), precursora do Naturismo brasileiro. Em 2017 faria 100 anos se viva estivesse. Com muita propriedade, Paulo Pereira em seu livro “Corpos Nus” escreveu: “Dora está fora da jurisdição desse mundo”.




Uma mulher à frente do seu tempo, corajosa, amiga dos animais e culta. Quem quiser conhecer um pouco mais da sua história poderá ler também os livros “A Bailarina do Povo” de Cristina Agostinho e “A Verdadeira Luz Del Fuego” de Thiago de Menezes. Aproveite também para ler o belíssimo cordel “A Vida de Luz Del Fuego” de uma inspiração do amigo Jorge Bandeira que não tenho palavras para descrever, incluo no final desse texto.

Dos anos 50 até os dias atuais o Naturismo teve avanços significativos, não em termos quantitativos, mas muitos trabalhos foram desenvolvidos em faculdades, livros, cursos pela internet, participação em encontros literários, informativos virtuais, entrevistas em jornais impressos e a recente rádio naturista. Nenhuma pessoa letrada pode afirmar que desconhece a filosofia naturista, mas segundo o último censo demográfico somos aproximadamente 194 milhões de habitantes e aqui temos também um número significativo que não faz a mínima ideia do que representa o movimento naturista no mundo.

No artigo que enviei para XIV Congrenat disse que “Ser Naturista” é aquele que busca o conhecimento e entenda a evolução da sua própria natureza. Quis dizer com isso que existe a necessidade do conhecimento científico, mesmo que a nossa miopia seja perene, o comodismo não ajudará em nada às futuras gerações. Por esse motivo tenho incentivado os jovens a conhecerem o Naturismo e entenderem o que diz o amigo João Olavo: “Naturismo pode ser a transformação que o mundo necessita, pois privilegia o cuidado com o meio ambiente, o combate ao capitalismo, o egocentrismo, exibicionismo e o consumismo exagerado, sendo o Naturismo o antídoto dos males do mundo porque nos ensina a viver de maneira simples em harmonia com a natureza." Sábias palavras!

Todos nascem livres, poucos morrem do mesmo modo.

A disparidade entre o número da população dos praticantes do Naturismo é um indicador forte do quanto as pessoas ainda estão presas aos seus conceitos sociais, o quanto ainda o corpo é tratado como algo que deve ficar escondido e, na realidade, esconde um lado psicológico assim diz Dr John Veltheim em seu artigo “Nus por baixo da roupa”: Nos últimos séculos, as pessoas desenvolveram uma dependência cultural da roupa. As vestes tornaram-se uma máscara e um adereço de suporte para tapar falhas, muitas vezes percebidas, de personalidade e de caráter.

Devemos comemorar o Dia do Naturismo como uma conquista de liberdade, não somente de uma liberdade corporal, mas principalmente mental. Uma luz que se conquista das barreiras impostas por uma cultura que marginalizou o corpo. Como nos diz Joseph Pearce no seu livro “O Fim da Religião e o Renascimento da Espiritualidade”: O Conformismo cultural ameaça a individualidade, a mente capaz de pensar para além das coerções tanto de nossa herança animal quando da cultura e seus efeitos globais. Só uma mente individual pode retomar o impulso evolutivo da vida e criar independentemente dos revestimentos e restrições artificiais que a cultura impõe. Nós, seres humanos, fomos feitos para essa individualidade perdida e ansiamos por ela.



Evandro Telles
21/02/15




A VIDA DE LUZ DEL FUEGO

PIONEIRA DO NUDISMO NO BRASIL

J. Bandeira

TRANSLÚCIDA LUZ


O Louco:

“Dia virá em que não haverá tecelões e ninguém para usar roupas. Todos nós ficaremos nus sob o Sol”.
(primeira fala deste personagem no início do texto “Lázaro e sua amada”, de Kahlil Gibran, em sua única obra escrita para o Teatro).

“Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá” (Livro de Jó 1-21)

“Nu eu nasci, e nu me encontro: não perco nem ganho” (Miguel de Cervantes)

ESTE CORDEL É DEDICADO A JOÃO CARLOS e  EDVAL FONSECA.

1

Amigos de todo Brasil
O relato que vou contar
Dá conta de certa mulher
Corajosa no seu lutar
Batalhou por uma nobre causa
Sua bravura foi exemplar

2

Ela era idealista
Disso eu tenho a certeza
Percalço encontrou na vida
E nela não teve moleza
Lutou pelo nudismo
Entrou na causa com firmeza

3

Nasceu como Dora Vivacqua
Há muito tempo atrás
Em 21 de Fevereiro de 1917
Não esqueço a data jamais
Quando nasceu Luz Del Fuego
Para o nudismo e seus ideais

4

Era uma capixaba
Natural do Espírito Santo
Da cidade do Rei Roberto Carlos
Dois artistas do mesmo canto
Dora iria ser Luz Del Fuego
E como Roberto causaria espanto

5

Cachoeiro do Itapemirim
Era sua cidade natal
Amava sua irmã Mariquinhas
Que para ela não tinha igual
Mariquinhas era musa de Drummond
O nosso poeta genial

6

No começo dos anos 20
A família Vivacqua se muda
Escolhe Belo Horizonte
Para continuar sua luta
A nossa futura Luz
Começa a ficar desnuda

7

Foi necessária uma ajuda, que
Um serpentário lhe inspirasse
Para que Dora Vivacqua
Das serpentes se aproximasse
E seus posteriores números
E musicais, a todos arrebatassem

8

Conheceu nossa menina
O Instituto Ezequiel Dias
Seu passeio predileto
Muitas vezes foi com as tias
Vislumbrar aquelas serpentes
E nos seus olhinhos brotavam alegrias

9

A bolsa de Nova York quebrou
Era 1929, ano do famoso Crack
O capitalismo pedia socorro
Quem for pobre que se esmague
Os Vivacqua voltam pra Cachoeiro
Cidade que só possuía um parque

10

Etelvina, mãe de Luz
Ficou perto de Antônio, seu marido
O pai de nossa futura Luz
Era um homem embrutecido
E jamais permitiu às filhas
Que ficassem nuas, sem vestidos

11

Dora Luz entra na adolescência
Demonstrando um gênio forte
Não agüentava desaforos
E também tinha muita sorte
Ordens e opiniões só aceitava
Se na sua vida não fizessem cortes

12

Mesmo jovem já andava nua
E escandalizava toda meninada
No quintal da casa brincava
Como Deus a fez, pelada
Não gostava de usar roupas
Que ficavam dias sem serem lavadas

13

Em agosto de 32, seu pai Antônio
É assassinado por inquilinos de seus terrenos
A pacata Cachoeiro estava perigosa
A morte não os deixou serenos
Etelvina volta para Belo Horizonte
Buscando para família ares amenos



14

Dora Vivacqua, futura estrela
Sente-se sufocada com tantos atritos
Sua vida seria na cidade maravilhosa
Onde ela poderia soltar seus gritos
E pela liberdade da nudez
Planejar inclusive seus escritos

15

Sua meta era o Rio de Janeiro
Que ela não tirava da visão
Apesar de seus poucos 15anos
Pensava no Rio em chegar de avião
Só sossegava quando a cabeça
Sonhava com a Guanabara, sua paixão

16

Dora odiava usar sutiã
Ela gostava era de estar nua
Pela praia de Marataízes
Improvisava as roupas suas
E isso quando o biquíni
Não existia, não se via nas ruas

17

Chega na Capital Federal
Sob a tutela de seu irmão Attilio
No Rio Dora se transforma
Adorava jogar seus brilhos
A gênese do nudismo no Brasil
Começa a assentar seus trilhos

18

Com 19 anos vive um romance
Com tal José Mariano
De família importante no Rio
Coisa que não agradou seu mano
Foi por isso que Attilio, seu irmão
A mandou de volta para Minas, sem engano

19

Em Minas uma desgraça acontece
Sua irmã Angélica, atônita
Flagra seu marido Carlos com Dora
Numa visão que lhe deixa afônica
Ele bolinava Dora, a seduzia
Numa cena forte, crônica

20

A família fica a favor de Carlos
E considera Dora mentirosa
No Hospital Psiquiátrico Raul Soares
A confinam de maneira dolorosa
É tida como esquizofrênica
E por dois meses sua vida ali será pavorosa

21

Preocupado com a irmã Dora
Depois que ela saiu do internamento
Seu irmão Achilles lhe faz um convite:
Vá para fazenda de Archilau ter novo alento
Lá você vai respirar um ar puro
Vai descobrir novos encantamentos

22

E na fazenda de seu outro irmão
Dora aparece como Eva
Coberta somente com 3 folhas de parreira
Caminhando naturalmente na selva
O filho do administrador a viu nua
E nem precisou se esconder atrás da relva

23

Aquilo Archilau não aceitou
E por ele Dora foi repreendida
Ela não contou duas vezes
Jogou-lhe um vaso na cabeça partida
Aquele ato trouxe-lhe conseqüências
E lá vai Dora pra outro hospício, ressentida

24

Agora nossa Dora Vivacqua
Que será conhecida como Luz Del Fuego
É internada no famoso hospício
Casa de Saúde Dr. Eiras, no desassossego
Seu espírito rebelde produzia vôos
Imprevisíveis como os do morcego

25

Dessa vez é sua irmã querida
Por quem tem uma profunda admiração
Que resgata Dora do hospício
Levando-lhe para outra estação
Em sua cidade de Cachoeiro
Mas Dora foge desesperada e chega ao Rio num lotação

26

Dora no Rio de Janeiro
Reata sua relação com Mariano
Sem oficializar sua união
Era livre e não queria nenhum dano
Para sua vida pelo casamento
Não queria entrar pelo cano

27

Tentou ser pára-quedista
Porém Mariano a impediu
Aceitou e viu no pedido dele
Uma demonstração de amor juvenil
Como aquele de ideais
De paixões, de uma vida pueril

28

O amor furacão de Mariano
Só agüentou algumas estações
Até que Dora resolve entrar na dança
Que todos sabem era uma de suas paixões
O ciúme doentio de Mariano
Começará a lhe trazer aporrinhações



29

Mas ela não desistiu da dança
E na Academia Eros Volúsia
Continuou seu curso brilhante
Dançando com muita astúcia
Não deu a mínima ao ciúme de Mariano
Era uma leoa por dentro de um ser de pelúcia

30

E assim acontecia
Na vida desta de nome Dora
Porém Luz Del Fuego irá chegar
E é pra já e agora
Uma nova fase em sua vida
De Dora o nome ela joga fora

31

Era o ano de 1944
Faltando mais um para a Guerra acabar
Que um nome começa a aparecer
Luz Divina espera triunfar
E no circo Pavilhão Azul
O público irá lhe aclamar

32

Atenção, senhoras e senhores
Vejam só que mulher exótica
Carrega suas incríveis serpentes
Vejam, isso não é ilusão de ótica
É a corajosa bailarina Luz Divina
Com cobras verdadeiras e não robóticas

33

Era a maior atração do circo
Nas noites de espetáculos
Luz garantia um bom público
A casa lotava sem obstáculos
Para ver Luz e suas jibóias
Que fazia inveja aos homens másculos


34

Era toda encantamento
A sua dança provocante
Na companhia de duas cobras
Seu número ficava mais excitante
Cornélio e Castorina, ora vejam
Eram os nomes dados àquelas rastejantes

35

Quando termina a 2A Guerra Mundial
Dora anotava tudo em seu diário
Suas experiências pessoais, viscerais
Dariam boas matérias para um noticiário
Era o começo do que viria a ser
Um livro que não tirou de seu imaginário

36

Sim, podem ter certeza
Nossa artista era sedutora
Seu livro “Trágico Blecaute”
Foi lançado por uma editora
Mulher de muitas virtudes
Nossa nudista maior era escritora

37

Em 1947, por sugestão de um amigo
Que era palhaço e se chamava Cascudo
Luz Divina virou Luz Del Fuego
“Nome estrangeiro atraía público graúdo”,
Tanto insistiu Cascudo com Luz
Que seu nome artístico teve um novo atributo

38

Luz Del Fuego era o nome
De um batom argentino novo
Que apareceu no Brasil nessa época
De brilho forte e vistoso
Era chamativo como nossa estrela
Que foi artista num período majestoso

39

O fogo era representativo
Pois sua vida era uma labareda
Sua nova opção de vida
A fez conhecida nas alamedas
A Vivacqua “água viva”
Deu lugar ao Fuego e sua destreza

40

Trabalhando em vários circos
Luz os ajudou com as “casas cheias”
Livrando da falência muitos deles
Fez muita gente ganhar o seu “pé de meia”
E assim ia levando a vida
De artista nos palcos tecendo teias

41

E como boa fiandeira
Conseguiu um bom contrato
No Teatro Follies
Onde representou mais de um ato
Naquela Copacabana ensolarada
Luz viu nascer seu estrelato

42

Um garoto de 12 anos
Era responsável pelas falas e apontamentos
Que Luz jamais decorava por inteiro
Ela improvisava sem ressentimento
O nome deste menino? Daniel Filho, ele mesmo
Que na Rede Globo foi um grande talento

43

A imprensa alardeou
O espetáculo “Mulher de todo mundo”
Luz Del Fuego era sensação
Sua família sentia no fundo
Que toda essa fama de artista
Para seus inimigos poderia virar um trunfo

44

Seu irmão Attilio era senador
E esse “ba-fa-fa” não era bom
Ter uma irmã que dançava nua
Em seus ataques esse seria o tom
Esses políticos nunca entenderiam
O que é uma artista ter um dom

45

Iluminar e dar alegria ao povo
Seria a missão dessa bailarina
Que em seus números ficava seminua
O braço do povo seria sua sina
E com isso seu irmão senador
De bondoso passou a ranzinza

46

Attilio não perdeu tempo
Para abafar qualquer reboliço
E do livro de Luz “Trágico Blecaute”
Da edição primeira deu um sumiço
Queimando mais de mil exemplares
Parecendo um inquisidor suíço

47

O diário escrito por Luz
Trazia fatos comprometedores
Como a sedução do cunhado
Que de Luz foi uma das dores
Sem contar uma assumida prostituição
Que pelo livro criava dissabores

48

Contando esta história
Vocês irão me dar razão
Uma pessoa só vence na vida
Com amor e dedicação
Mesmo que seja pelo nudismo
Que no Brasil sofre discriminação

49

Os anos 50 estão chegando
E nossa artista se consolidando
A naturalista e vegetariana
A passos largos vai andando
Criando fama e admiração
Também seus inimigos vão tramando

50

Contra ela falam de tudo
De depravada a pessoa devassa
E nisso essa mulher de fibra
Esperneava e achava graça
Suas idéias eram originais
Sua arte a todos abraça

51

Com o lançamento de seu livro
O já falado “Trágico Blecaute”
Suas intervenções serão lidas
Começarão novos embates
Os defensores da falsa moral, puritanos
De Luz farão o alvo de seus disparates

52

Para nossa defensora
O nudista é aquela pessoa
Que acredita que as roupas
Com toda pompa de quem a veste ressoa
Não significa moralidade
E desta falsa visão ela caçoa

53

Não acha que o corpo humano
Que é considerado por muitos profano
Tenha partes indecentes
Que se precisam esconder com pano
E disso estava tão convicta
Que não demonstrava desengano

54

No Brasil daquela época
Onde até o maiô era imoral
Imaginem vocês, leitores
O que Luz deve ter feito para ganhar moral
E fazer com que o nudismo
Entrasse na discussão nacional

55

Começou então Luz Del Fuego
A reunir um grupo de amigos
Na praia de Joatinga, deserta
Onde praticava naturismo aos domingos
Levava alguns cães para proteção
E seus amigos Lana, Gilda e Domingos

56

Miss Lana e Miss Gilda
Eram transformistas assumidos
Domingos Risseto era artista
De Luz eram muito queridos
Estes pioneiros do nudismo
Eram naturistas aguerridos

57

Para garantia contra os abelhudos
Que perturbam sempre os pelados
Levava também suas serpentes
Cornélio e Castorina sempre ao seu lado
Para evitar um maior atrevimento
Dos que acham o corpo humano um pecado

58

Apesar de todo cuidado
A polícia sem engano
Vez por outra levava
A todos nus num ato insano
Para delegacia de bons costumes
Sem terem feito nada de leviano

59

Seu segundo livro é lançado
Chama-se “A Verdade Nua”
O título já dizia tudo
O nudismo é uma bandeira sua
Ele lhe dá evidência
Seu nome de novo ganha as ruas

60

É um livro autobiográfico
Feito com toda dedicação
As bases da filosofia naturista
Estavam entrando em ação
Até o integralista Plínio Salgado
Ao posfácio deu sua contribuição

61

Foi outra obra perseguida
Sofrendo com a censura
As autoridades a bloquearam
Levantando suas injúrias
Ninguém achava o livro
Só no reembolso sua compra era segura

62

Já conhecida no Brasil inteiro
Luz levava todos ao delírio
Era o tempo das vedetes
Mulheres que aos olhos eram colírio
Mara Rúbia, Virginia Lane e Dercy Gonçalves
Todas figuras de intenso brilho

63

No mundo das vedetes
Luz Del Fuego brilhava
Foi na época de Elvira Pagã
Sua maior rival, que admirava
Época de grandes espetáculos
Nos anos 50 ninguém as vaiava

64

Foi capa de revista famosa
A LIFE dos Estados Unidos
Todos queriam sua presença
Seu cachê era garantido
Caprichava nas apresentações
Onde seu corpo era exibido

65

Sua vida era agitada
E disso tirava proveito
Nunca se amedrontava
Peitou delegado, juiz e até prefeito
Tudo lutando pela causa
Do nudismo que para ela era perfeito

66

Seus irmãos se davam bem
Na política, comércio e no social
E achavam que Luz Del Fuego
Manchava seus nomes como um vendaval
Que passava destruindo tudo
Até mesmo o baluarte da falsa moral

67

Attilio como senador
Era o que mais se sentia difamado
Por ser irmão da famosa artista nua
Os adversários o haviam caçoado
Perdeu uma eleição por isso
A oposição o havia molestado

68

Diziam que sua irmã
Era uma mulher do demônio
Que dançava nua nas ruas
Acabando com o matrimônio
Attilio ficou furioso
E perseguiu Luz e seu patrimônio

69

Com tanta perseguição
Luz resolveu revidar
Antes de ser surrupiada
Nua ameaçou dançar
Nas escadarias do senado
Fazendo Attilio se calar

70

Em matéria de dinheiro
Falava ironicamente de seu jeito
Que seu banco preferido
Tinha o nome de preconceito
E era mantido por seus irmãos
Que mazelas a tinham feito

71

Enquanto isso acontecia
Luz continuava na vida animada
Cercava-se de amigos gays
Seus shows eram festas lotadas
Sempre com seu parceiro de palco
Domingos Risseto, camarada

72

O grande feito político
Na vida desta figura
Foi criar um partido nudista
Que seria banido pela censura
O Partido Naturalista Brasileiro
Que no nudismo tinha lisura

73

Angariava fundo ao PNB
Dançando nas escadarias
Do grande Teatro Municipal
Seminua ouvindo baixarias
Dos falsos puritanos de plantão
O que só aumentava suas estripulias



74

O PNB não durou muito
Nem mesmo foi registrado
Graças à ação de Attilio
Seu irmão desalmado
Que tudo fez para o Partido
Seu registro ter sido negado

75

O legado do naturismo
Filosofia e ética de vida
Onde todos estão nus
A nudez é coletiva
Faz com que Luz
Tivesse uma nova iniciativa

76

E Luz não estava parada
Mesmo com o fim do partido
Seduziu o Ministro da Marinha
Um velho seu conhecido
Os passos estavam dados
Para  sua ilha de nudismo ter surgido

77

Ganhou assim a cessão
Da Ilha Tapuama de Dentro
O porto seguro do nudismo
Que para os pelados era um alento
Ali o nudismo brasileiro
Existia com bons ventos

78

Logo a Ilha foi batizada
Como Ilha do Sol, um paraíso
Nome dado por Luz Del Fuego
Que do nudismo fez um atrativo
Todos por ali sabiam
Ficar nu na Ilha não era ato apelativo

79

A Ilha do Sol ficou famosa
Virou atração na Cidade Maravilhosa
Mesmo não fazendo parte
Do turismo, era não oficiosa
Por ali passaram as estrelas
Com suas famas luxuosas

80

Lendas do cinema americano
Passaram pela famosa ilha
E só entravam nela nus
Mesmo que fossem em família
Dos velhos às crianças
Andavam pelados em suas trilhas


81

No final dos anos 50
A ilha teve seu apogeu
Recebendo inúmeros sócios
De famosos artistas àqueles que ninguém conheceu
Suas festas,  reuniões e filmagens
A prática do nudismo fortaleceu

82

De Errol Flynn
A Lana Turner, astros
A todos acolhia
Suas roupas não deixavam rastros
Ficavam nus com alegria
E ainda faziam bons gastos

83

Ava Gardner belíssima
Tyrone Powell magistral
Conheceram a Ilha do Sol
E para lá levaram alto astral
Viveram nus bons momentos
Acharam o local monumental


84

César Romero aportou
Glenn Ford caminhou
Andaram nus na Ilha do Sol
A imprensa até noticiou
Luz estava feliz
Seu sonho se realizou

85

Até Brigitte Bardot
Na época uma musa do cinema
Esteve nua na ilha
O que pra ela não foi problema
Era uma nudista conhecida
Ficar nua não era um dilema

86

O fato mais pitoresco
Aconteceu com Steve MacQueen, o ator
Que levou um baita susto
Ficando de toda cor
Acordando com a Jibóia de Luz
Em cima de seu peito com pavor

87

Já com a loira atriz
Jayne Mansfield exibida
Aconteceu uma rejeição
Pois ela não quis ficar despida
E Luz não abriu exceção
Deu-lhe um adeus de despedida

88

Os anos 60 chegavam
E Luz estava envelhecendo
Seus amantes ricos influentes
Aos poucos foram desaparecendo
Só lhe restando a Ilha do Sol
E poucos nudistas por lá aparecendo

89

Começou então o envolvimento
De Luz com Júlio pescador
Que era forte e analfabeto
Ficando ao seu dispor
Os dias de glória de Luz
Perdiam o seu esplendor

90

O último amor de Luz
Foi um guarda portuário
Chamado Hélio Luís da Costa
Homem de hábitos vários
Deixando os poucos amigos de Luz
Preocupados e muito temerários

91

Os amigos receosos
De algo acontecer
Com Luz, sozinha na ilha
Sem ninguém a lhe socorrer
Se acontecesse algo grave
O que não demorou a se suceder

92

Que os amigos nada temessem
Luz falava categoricamente
“Sou uma Luz que não se apaga”
Dizia de forma convincente
E assim foi levando a vida
Não dava trela ao perigo eminente

93

Era o ano de 1967
O trágico fim se aproximava
Pois sua morte foi tramada
Luz seria assassinada
Em 19 de julho deste fatídico ano
E a polícia não pôde fazer nada

94

A vingança foi a causa
De sua cruel morte
Junto com seu caseiro Edgar
Luz não teve nenhuma sorte
Dois irmãos assassinos
Nos corpos deixaram profundos cortes

95

Os nomes de seus algozes
Resolvi deste cordel omitir
Pois não quero que os mesmos
Fiquem impressos ao porvir
Suas ações fizeram um luto
Que o nudismo custou suprimir

96

Depois de ter sido “convertido”
Um dos assassinos escreveu
Um relato descarado
De tudo que na Ilha aconteceu
Naquele trágico episódio
Onde Luz Del Fuego faleceu

97

Seu legado inconteste
No nudismo foi fortalecido
E depois da ditadura
Seus trajetos foram reconhecidos
Da praia do Pinho a Tambaba
Novas áreas de nudismo têm surgido

98

No Rio temos Abricó
Em Floripa a Galheta
Todas áreas de naturismo
Onde estar nu não dá “treta”
A vida de Luz Del Fuego
Serve de exemplo e grandeza

99

Passando por Massarandupío
Barra Seca e outros locais
E ainda recantos e clubes
Onde o naturismo possui um cais
Um lugar para aportar
Projetar seus ideais



100

O nudismo tem sido acolhido
Até na floresta amazônica
Lá existe o GRAÚNA
Grupo que faz do naturismo sua tônica
Que busca nas origens indígenas
Uma nudez social orgânica

101

De algo temos certeza
Em relação ao naturismo organizado
Sua força está crescendo
A Lei Gabeira está ao seu lado
Garantindo a todo naturista
O direito de não ser importunado

102

Termino aqui este relato
Da trajetória desta artista formosa
Que do nudismo foi pioneira
E teve vida gloriosa
A todos os meus leitores
Deixo um abraço e uma Luz vistosa.

FIM

Manaus, Março e Abril de 2005.

Bibliografia de referência
AGOSTINHO, Cristina. Luz Del Fuego: a bailarina do povo. RJ, Best Seller, 1992.
Site http://memoriaviva.digi.com.br acessado em 27/3/2005.
Conheça o NATURISMO AMAZÔNICO:
No Orkut procure a comunidade:  NATURISMO EM MANAUS.
Graúna-Am (Grupo Amazônico União Naturista)
O PIONEIRO DO NORTE NATURISTA NA NET!
Observação: este cordel foi publicado pela Editora Acauã no ano de 2005, sendo lançado com o patrocínio da SONATA, no Estado da Paraíba.
Atualizado em 16 de janeiro de 2011.


























































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