Após
o II ENNN Encontro Norte Nordeste de Naturismo que durou quatro dias, tendo
como lema “Espiritualidade, Solidariedade e Compromisso”; e em torno disso
muitas atividades que considero importantes de serem mencionadas nesse texto.
Necessário
esclarecer que “Espiritualidade” não tem nada a ver com religião, crenças,
Deus, Santos ou Profetas. Espiritualidade é um caso de amor maior do indivíduo
em relação ao cosmos. Você toca na folha estará ao mesmo tempo tocando nas
estrelas, é a universalidade sem fragmentos, é sentir o pulsar da vida em todas
as direções, não há norte nem sul, não há fronteiras. No dia em que a
espiritualidade tocar o homem não poderão existir guerras, violência, afrontas,
porque o outro será um espelho que reflete ele mesmo.
Diariamente
tínhamos um momento para reflexão dos elementos da natureza, fogo, terra, água
e ar. No primeiro dia, uma fogueira foi acesa e a Rayssa fez abertura do evento
de forma brilhante, louvando o “fogo” que em nosso corpo representa o coração,
símbolo da paixão, do amor e da energia que nos faz movimentar. Todos os
participantes mentalizaram o que deveria colocar para o universo, seus pedidos,
anseios, desejos e provavelmente orações. Mas tudo de forma silenciosa em respeito
às crenças individuais, que é um dos preceitos do Naturismo.
No
segundo dia “a terra” com representação artística do amigo Jorge Bandeira, que
deitou o seu corpo na terra molhada pelas chuvas que não dava trégua, mas foi
bom que tenha sido assim em reconhecimento da nossa adaptação à natureza, não
ao contrário. Antes da sua exposição, Jorge pede que tenhamos em mente as
crianças ali presentes e o amigo Miguel que luta contra o câncer e sempre
esteve em defesa do Naturismo na praia de Massarandupió. Deita numa posição
fetal e os participantes colocam um punhado de terra sobre o seu corpo, e nada
mais foi dito. Percebem a significância? É o encontro da vida e da morte, é a
vida se manifestando da terra, vivida por uma criança que hoje luta e o seu
final, coberta de onde surgiu. É o encontro dos opostos, é a vida que morre ou
surge? É seu início ou fim? É a igualdade de todos os seres que vivem, é o
direito de viver com dignidade. Não contive tamanha emoção e meus olhos
lacrimejaram.
No
terceiro dia, “a água” foi o terceiro elemento, exaltada a sua importância para
a manifestação da vida, circulante em todo nosso organismo, além de nascermos
por meio desse elemento. Todos passaram por uma fonte de água e ali se
banharam. À noite foi o lançamento do livro “Naturismo – Um Corpo Não
Fragmentado” em que tive a oportunidade de realizar uma breve apresentação, sem
muita delonga por ver o cansaço de muitos que já tinham ido à praia, passado o
dia em reuniões. Percebi a inconveniência de realizar uma palestra com muitos
detalhes. O ponto alto do evento mais uma vez partiu da encenação do Jorge
Bandeira de um texto escrito por Plínio Marcos (1935-1999), mostrando o índio
transformado num mendigo, sem vida em seu olhar, sem alma e esperança. Culpa de
quem? Dos que os tiraram das suas terras, mas também dos que calaram por medo,
dos que nada fizeram para impedir a ganância, dos nossos antepassados e de cada
um de nós que ficamos sentados, acomodados vendo passivamente o extermínio do
homem nu, tirado à força de seu habitat, da terra e do seu lar. Culpa de quem? Mais
uma vez pergunto. Por incrível que pareça encontro um dedo apontado em minha
própria direção. Isso é consciência, Naturismo e Natureza andam de mãos dadas e
antes
de tudo, é um compromisso com a vida. (Edson Medeiros).
No
quarto dia, encerramento com reverência ao “Ar”. A respiração, o reconhecimento
que o corpo tem a sua própria sabedoria, o ar inspirado tem que ser solto,
ninguém poderá reter como se um objeto fosse porque se for retido cessa a vida,
tem que ser equilibrado, nem mais nem menos. Lembra-nos que a vida é uma
fluidez e não estática, um constante dar e receber, que não somos donos de
coisa alguma, só estamos usufruindo. Naturalmente surge a “gratidão”, que não é
uma atitude e sim um sentimento. Não é que se tenha que agradecer a alguém, é
andar no peito com a gratidão por todas as coisas e por todos que encontramos
nessa passagem pela vida afora.
Algumas
pessoas chegaram quando estávamos finalizando essa atividade ainda perguntaram:
“Perdi alguma coisa?”
Sim,
perdeu tudo, quem não participou perdeu muito.
Obrigado,
as lições foram muitas. Aprendi que o Naturismo é também território das emoções.
Evandro
Telles
14/10/13
Amigo Irmão Evandro!
ResponderExcluirPerdi alguma coisa? Sim, eu e Gilson perdemos todas as emoções vividas plenamente no II ENNN. Maktub, estava escrito! Não tinha que ser agora. Mas restou-me o consolo de saber que os amigos estiveram reunidos na Ecovila, em Massarandupió, e deixaram fluir todas a emoções.
Grata por nos passar sua emoções. Bjs, Maria Luzia