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domingo, 16 de novembro de 2014

ECO SILENCIOSO

Eco Silencioso

Paulo Pereira
Rio – Nov/ 2014

Um dia, Manoel de Barros escreveu: “Com pedaços de mim eu monto um ser atônito”.  Agora, releio, no silêncio insone da madrugada, as velhas páginas meio inquietantes do pequeno-grande “Livro Sobre Nada”, do poeta-passarinho Manoel, o conhecido pensador recluso do Mato Grosso, das terras exuberantes do grande Pantanal... Vou, de novo, ao encontro das possíveis essências fundamentais, talvez das sagradas profundezas da natureza, como nos propõe, meio ansiosa, a bióloga Ursula Goodenough, a buscar outros horizontes, reflexões que criem contrapontos, sobretudo, possíveis alternativas. E a poesia de Manoel é por certo uma preciosa alternativa, inteligente e lúcida, que contrasta com tantos descaminhos da vida moderna. Viajo, então, na criatividade e na observação aguda do velho Manoel de Barros, o mago apaixonado pela vida sem complicações, pela vida nua, pela simplicidade natural e pelos pássaros multicoloridos. Enquanto alguns afoitos tecem desconstruções e vivem proclamando tolices complexas, Manoel nos oferta, humilde, belas e perenes sutilezas, verdades delicadamente reveladas, quem sabe até os brilhos incomparáveis das asas de uma borboleta, essas pétalas que flutuam no ar... E eu, Paulo, quero enriquecer meu olhar e, com ele, a minha percepção da poesia incomum de Manoel, com a exata colocação, sobretudo refinada, de Lúcia Castello Branco, registrada nas orelhas do livro de Manoel. Lúcia salienta a imagem-mônada do livro, talvez o sentimento longínquo de uma coisa esquecida, certamente um lápis numa península... E sempre, afinal, o lápis de Manoel, o peregrino da natureza indomável, o doce punhal de grafite a rasgar espaços e expressar pensamentos. Lúcia destaca que Manoel de Barros sempre colecionou epígrafes, citações, referências, notas de rodapé de página, prováveis pistas falsas para encontrar o nada. Para Lúcia, Manoel acaba mostrando-se por inteiro na sua poética da desaprendizagem, em um modelo de expressão excepcional. Tento, então, mergulhar nas afirmadas sutilezas da poesia de Manoel, e experimento êxtases e espantos, revelações e buscas intermináveis. Aprendo, sobretudo, com Manoel que, para ter mais certezas, tenho que me saber de imperfeições... Faço escolhas. Construo caminhos. Uso o lápis também para sujar minhas folhas de papel, para traçar talvez rudes picadas pelos emaranhados dessa vida. Manoel, concordo com ele, diz não precisar do fim para chegar. Se queremos chegar a nada, por exemplo, devemos descobrir simplesmente a verdade. Manoel sempre perseguiu o nada, o grande nada, tudo que use o abandono por dentro e por fora. Manoel me disse, então, nas páginas do seu livro:
“Sou um sujeito cheio de recantos,
Os desvãos me constam.
Tem horas leio avencas
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto do Bola-Sete e Charles Chaplin.”

E ainda acrescentou:
“Opero por semelhanças...
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade para clarezas
Preciso obter sabedoria vegetal
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo)”...

Manoel de Barros não é um ponto nem é uma vírgula; ele é uma série de reticências... Mas disseram ainda agora (novembro de 2014) que Manoel de Barros teria, enfim, morrido. Duvido muito. Manoel é um encantado atemporal, que reside, teimoso, nos preciosos pormenores. Manoel, passarinho misterioso, deve ter mesmo voado, livremente. Manoel é, afinal, um doce joão de barro (de Barros), mestre de construções assimétricas, morador do arco-íris e do vislumbre. Seria até bom tentar alcançá-lo...

Paulo Pereira

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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

SE EU TIVESSE QUE DEFINIR O NATURISTA....





Acredito que se eu perguntasse alguém: Quem é naturista? Todos diriam que é aquele que pratica o Naturismo. Muito bem, então voltamos ao início, o que é Naturismo? A definição como preconizada pela INF e FBrN, assim diz: “Naturismo (Nudismo) é um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, que tem por intenção encorajar o auto-respeito, o respeito pelo próximo e o cuidado com o meio ambiente”.

A confusão permanece, “modo de vida”, o que é vida? Nem os cientistas, biólogos ou professores ainda não conseguiram definir satisfatoriamente. O que é harmonia? Será que estamos vivendo mesmo em harmonia com a natureza? Muitos encontros naturistas são marcados por churrascos, penso que os pobres animais não diriam que se trata de qualquer tipo de harmonia com eles. O que é natureza? São animais, as plantas ou a própria natureza humana? Um dos maiores filósofos Espanhol, Ortega, diz que não temos natureza, temos história. Alguns místicos dizem que cada um possui a sua própria natureza, então temos que harmonizar com a qual? Nudez Social, como assim? Nudez física, psíquica ou os dois? Expõe de fato o que pensamos e somos inteiramente livres para expor sem melindres o que verdadeiramente pensamos? Tenho fortes dúvidas nessas questões.

 Vejam que a definição não passa de uma grande intenção, ainda não diz o que é. Possivelmente o mais correto seja simplificar como os alemães, “Culto ao Corpo Livre” ponto. Se não podemos traçar os limites muito claros com relação ao Naturismo, será que podemos dizer algo sobre o naturista?

No artigo “Asilo Naturista” disse e repito: Penso que o naturista seja o potencial para ser um rebelde. Ele oferece ao mundo uma mudança de consciência, e se a consciência muda a estrutura da sociedade não pode deixar de mudar. Não se trata de uma revolução já que nenhuma revolução jamais conseguiu mudar os seres humanos. A revolução francesa não levou a nada, a revolução russa não levou a nada, a revolução chinesa não levou a nada, até mesmo a revolução de Gandhi fracassou.

Para o rebelde só um novo ser humano pode salvar a humanidade e este planeta, e a vida magnífica que aqui extraordinariamente existe. Mas quando digo que o naturista ainda é um potencial porque na sua maioria ainda estão presos aos velhos valores sociais, não buscam o autoconhecimento; conhecer a própria natureza em que tanto defendem e a ciência envolvida no corpo humano. Conheça a ti primeiro, o resto é consequência. Segundo Carl Segan, 535 membros do Congresso dos Estados Unidos, raramente 1% chegou a ter alguma formação científica significativa no século XX.

Nós naturistas defendemos o respeito, e quando todo mundo é respeitado pelo que é, quando toda profissão é respeitada, seja ela qual for, as próprias raízes do crime, da injustiça, são cortadas. E por que às vezes se esconde que é um  naturista? Por causa da nudez? É justamente por ela que estamos propondo um mundo novo, um olhar diferente, uma vida mais natural, onde podemos unificar a espécie humana. Isso nos torna rebeldes porque a sociedade dividiu e a natureza não.

Para mudar esse quadro somente será possível com pessoas de mente aberta, dispostas a conversar sem impor, aprender com as experiências do outro, saber avaliar o Naturismo cientificamente, pois é Ciência. Se misturar conceitos teológicos ao Naturismo em nada ajudará. “Afinal, o que faz alguém pensar que a teologia é um campo do conhecimento?” (Richard Dawkins).

É fundamental que os naturistas busquem conhecimento da verdadeira ciência e não da pseudociência. “Em todo mundo, existe um enorme número de pessoas inteligentes e até talentosas que nutrem uma paixão pela ciência. Mas essa paixão não é correspondida. Os levantamentos sugerem que 95% dos norte-americanos são cientificamente analfabetos. Qualquer índice de analfabetismo próximo de 95% é grave. (Carl Segan).

Se tivesse que definir o naturista, diria eu que é aquele que busca a sua evolução por um processo natural como uma reconciliação consigo mesmo e “Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil – e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos.” (Albert Einstein).
  
Evandro Telles
06/11/14


  

terça-feira, 21 de outubro de 2014

ASILO NATURISTA



 Bertrand Russell, nascido em 1872, um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos do século XX, recebeu o Nobel de Literatura em 1950 em reconhecimento pelos seus escritos e pela luta dos ideais humanitários e pela liberdade de pensamento. No ano de 1939 foi nomeado pela Faculdade Municipal de Nova York (College of the City New York) para lecionar no período de 01/02/1941 a 30/06/1942. Tão logo foi divulgada a sua nomeação surgiram diversas denúncias inverídicas e o juiz da cidade determinou a revogação da sua contratação sem lhe dar a oportunidade de contestação. Uma dessas denúncias era a de que Russel dirigia uma colônia Nudista na Inglaterra, seus filhos desfilavam nus. Ele e sua esposa desfilavam nus em público e diziam que esse homem, que tinha seus 67 anos, era adepto da poesia devassa. É de se observar que esse fato ocorreu antes do Naturismo/Nudismo se apresentar em terras brasileiras.

Tal difamação presumivelmente derivada do que ele escreveu:

“O sol sobre a pele exposta tem efeito extremamente saudável. Além do mais, qualquer pessoa que já tenha visto crianças correndo de um lado para o outro a céu aberto, sem roupas, deve ter se surpreendido com o fato de que elas mantêm um melhor equilíbrio e se movem com mais liberdade e mais graça do que quando estão vestidos. A mesma coisa se aplica aos adultos. O lugar adequado para a nudez é ao ar livre, ao sol e na água. Se nossas convenções permitissem isso, logo a nudez deixaria de ter qualquer apelo sexual; todos nós teríamos melhor equilíbrio, seríamos mais saudáveis, devido ao contato do ar e do sol com a pele, e nossos padrões de beleza coincidiriam mais com os padrões de saúde, já que estaríamos também preocupados com o corpo e seus membros, e não apenas com o rosto. Nesse sentido, a prática dos gregos deveria ser louvada”.

Isso se deu numa época em que não tínhamos ainda tantos estudos científicos que atestam a prática do Naturismo como saudável do ponto de vista físico e psíquico. Atualmente com um leque de informações variadas (da minha parte com 3 livros publicados e semanalmente divulgados nos encontros literários) deveríamos supor que o número de praticantes do Naturismo crescessem pelo menos na mesma proporção dos habitantes do país ou no mínimo despertasse a curiosidade de conhecer esse estilo de vida. Nem uma coisa nem outra.

A Federação Internacional de Naturismo (INF) já demonstrou algumas preocupações com relação ao envelhecimento do Naturismo, no Brasil então nem se fala. Alguns países europeus com extensão territorial muito menor que o nosso e com áreas maiores dedicadas à prática do Nudismo. De uma coisa tenho certeza, é cultural. No entanto muitas outras pesquisas, inclusive acadêmicas, poderiam ser desenvolvidas a partir dessa constatação. Na medicina (já que o naturismo surgiu pesquisando grupos na recuperação da saúde) será que realmente tem algum efeito benéfico ou é um placebo? Na psicologia, o que muda no comportamento daqueles que praticam? Na administração, será que faltam investidores? No turismo, se em muitos países é considerado uma fonte de renda para a sua população, por que aqui não? Na biologia, é genético de um povo ou é um condicionamento educacional? E por aí vai afora tantos trabalhos que poderiam ser desenvolvidos pelos nossos acadêmicos! No site da Federação Brasileira www.fbrn.com.br na biblioteca virtual poderão ser encontrados alguns trabalhos recentes muito interessantes.

O naturista é um rebelde em potencial. Ele oferece ao mundo uma mudança de consciência, e se a consciência muda a estrutura da sociedade não pode deixar de mudar. Não se trata de uma revolução já que nenhuma revolução jamais conseguiu mudar os seres humanos. A revolução francesa não levou a nada, a revolução russa não levou a nada, a revolução chinesa não levou a nada, até mesmo a revolução de Gandhi fracassou.

A importância da preservação do Naturismo é que sem a liberdade do corpo também não teremos a liberdade de pensamento tanto defendido por Bertrand Russell. Não haverá poesia, não haverá uma filosofia autêntica sem liberdade porque essa liberdade é a nossa própria natureza, nascemos com ela e cada vez que há o distanciamento dessa natureza mais o ser humano se agride e provoca violências. Não é sem propósito que todo humanista olha diferente para o corpo e defende também o desarmamento. Com Russell não foi diferente, passou os anos 50 e 60 envolvido com causas políticas, principalmente relacionadas com o desarmamento nuclear e a oposição à Guerra do Vietnã.

Nem todo naturista tem a consciência do que ele representa e da sua responsabilidade porque tudo é um processo que ocorre gradativamente. O próximo Congresso Brasileiro previsto para Janeiro na Colina do Sol no Estado do Rio Grande do Sul terá como tema “Não basta estar naturista, tem que ser naturista”. Há um erro no tema, mas atribuo a uma deficiência da nossa linguagem; ainda assim consigo entender a intenção, o que já acho muito válido.

Mas se os nossos jovens ficarem apáticos atrás dos seus celulares e não houver um crescimento quantitativo e qualitativo no Naturismo, em poucas décadas restará somente os asilos naturistas.

Sugiro para o próximo Congresso a inclusão da pergunta: O que podemos fazer para mudar uma consciência? Pode ser que a resposta esteja no próprio tema em questão, “assuma o Naturismo com orgulho e conhecimento de todas as suas implicações”, MAIOR LIBERDADE, MAIOR SERÁ TAMBÉM A RESPONSABILIDADE.


Evandro Telles
21/10/14


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A SEMENTE DO NATURISMO





Penso que todas as pessoas possuem dentro de si a semente do Naturismo, afinal de contas nascemos nus e livres. No entanto, toda semente guarda dentro de si um potencial, pode florescer ou não. Nem todas crescem, só envelhecem. Envelhecer qualquer animal é capaz disso. Crescer é prerrogativa dos seres humanos. Só alguns reivindicam esse direito.

A criança nasce, é o momento mais livre de todo ser humano, mas no momento seguinte já está sendo corrompida pela sociedade e seus valores. O que o Naturismo faz? Proporciona maturidade. Maturidade significa resgatar sua inocência, tornar-se uma criança novamente. Claro que há uma diferença – a criança comum está destinada a ser corrompida, mas quando você recupera a sua infância, você se torna incorruptível. Ninguém o pode corromper; você se torna inteligente o bastante - Agora, sabe o que a sociedade lhe fez, você está alerta e atento, não permitirá que isso aconteça novamente.

Posso escrever muitos livros e diversos artigos, mesmo assim será de pouca utilidade para aqueles que se apegam aos seus conceitos. Isso acontece por dois grandes motivos: Primeiro, o Naturismo só pode ser conhecido por meio da experimentação e não só pela leitura. Lógico que a leitura ajuda abrir o leque do nosso entendimento proporcionando uma melhor aceitação, entretanto, sozinha não significa nada. Segundo, a linguagem nunca pode abranger a totalidade da vida. Tentou-se muitas vezes abranger a totalidade da vida com a expressão lingüística. Nunca se teve êxito, e não pode ter. Se disser que alguém é feio e bonito a linguagem se volta irracional, na realidade é assim mesmo, ninguém é simplesmente feio e ninguém é simplesmente bonito. Onde existe a beleza, existe a fealdade; onde existe a fealdade, existe a beleza. Formam parte de um todo.

O Grupo Naturismo Capixaba sempre proporcionou a oportunidade para aqueles que desejam conhecer o Naturismo sem impor a nudez, deixando que a semente possa germinar no seu próprio tempo, preservando a ética, a amizade e a união.

Qual o motivo da nudez social ser tão importante assim? Nossa sociedade esqueceu que o corpo representa um templo e o trata como matéria, em especial relação corpo – sexo, algo para uso. O Naturismo é uma espécie de rebeldia que consiste em acabar com essa obsessão sem desprezar a própria natureza que é livre, é fazer que o ser humano seja aceito em sua totalidade, não em partes. Por outro lado, essa liberdade consciente cria raízes profundas que o transforma. O rebelde não é entendido pela massa, a presença da nudez parece ofensiva, porque abre os olhos e mostra o corpo numa nova perspectiva. O respeito pelo outro passa a ser também um dos objetivos primeiro, uma vez que os defeitos todos nós os possuímos de uma forma ou outra.

As guerras, as bombas lançadas contra seu semelhante jamais teriam acontecidas se as pessoas não fossem vistas como meros objetos. Será que o Naturismo tem a audácia de mudar o mundo? De forma alguma, as verdadeiras mudanças ocorrem a partir do indivíduo, um processo lento. A sociedade é composta de pessoas individualizadas, um nome para designar o coletivo, o que realmente existe são os indivíduos e são esses que precisam criar uma nova mentalidade com relação ao corpo.

Para que a semente do Naturismo possa criar raízes é fundamental que seus participantes assumam a sua condição diante de todos com orgulho. Sem conflito com o próprio corpo que se cria um clima mais propício para a plenitude, o reconhecimento que as raízes e as flores são duas extremidades de um único fenômeno, ou seja, o corpo e a interioridade só podem ser vistos de modo integrados, sem nenhuma divisão. Assim é que o Naturismo deve ser vivido.


Evandro Telles

25/08/14

quarta-feira, 30 de julho de 2014

X ENCONTRO BRASILEIRO DE NATURISMO

(carta de Valdemir Rodrigues de Andrade)


Amigos naturistas, bom dia. 

O X EBN - Encontro Brasileiro de Naturismo foi simplesmente um marco, que marcou a história e a mente de quem esteve no evento. Devo reconhecer que a energia que fluiu de todos os participantes, de todas as partes do imenso Brasil e a troca respeitosa com a comunidade da Vila de Massarandupió, foi indescritível. 

Houve tempo para tudo. Reuniões da Diretoria, dos Conselhos, Plenária,  da equipe de apoio, das rodas de samba, das brincadeiras, das trilhas ecológicas, da belíssima e inesquecível chuva na praia, das entregas de reconhecimentos entre as associadas, certificações de áreas naturistas, afiliação de novos grupos, de abraços, de carinho entre as diversas culturas ali representadas, e muito amor uns pelos outros. 

Naturismo é isso! Fraternidade verdadeira, amplitude de ações, aceitação de si e do próximo, diferenças que não distanciam e muito pelo contrário; atraem! 

Foi inesquecível, educativo, inigualável. Estamos crescendo, não em números (apenas, mas também) e sim, e principalmente, na qualidade do conhecimento sobre o que é ser naturista. Pessoas que se importam com a comunidade local, com as carências da localidade onde se encontra, do recolhimento do lixo que o amigo deixa cair, da mão estendida em direção ao diferente, do sorriso grato pelo simples fato de alguém estar ali, bem pertinho da gente. 

Como é bom saber que isso existe, assim como a natureza que se renova a cada corte, que brota das destruições, que insiste em permanecer, assim é o naturista, homem e mulher que insiste em existir com toda a leveza do ser, sem cargas nenhumas de paradigmas ou definições existenciais, mas com uma forte e inesgotável disposição de mutação, de ser hoje diferente de ontem para se encaixar na natureza da vida, tal qual é a natureza, que nativa não tem ordem, nem separação por espécie, uma nascendo e crescendo à sobra da outra, se enroscando na forma da outra sem cismas, sem preconceitos, apenas acontecendo com a fluidez natural da vida harmônica do existir sem porquês, apenas sendo! 

Naturista é isto. Somos o que somos, e somamos aos que são, vivemos! Sem cobranças, sem contas, nem medos, nem desesperos, sem olhares de malícia, sem olhares curiosos, sem olhares maldosos, apenas sendo na vida uma partícula do todo, sem dívidas com o outro, já que fazemos a nossa parte e quando dá, até a do outro, para que o todo se beneficie e não apenas um, ou outro. 

Que comunidade linda estamos construindo. Que mundo maravilhoso estamos despertando. Obrigado a todos os naturistas! 

Destaco um trecho da matéria feita pelos jornalistas do site www.camacarifatosefotos.com.br/ que cobriram o evento, aos quais já parabenizo e convido a todos que leiam atentamente e admirem a visão de quem chega e vê o naturismo brasileiro!

"Mas, o resultado é que o X Encontro Brasileiro de Naturismo, deixou valores para quem realmente soube se desnudar (em todos os sentidos), sobretudo de conceitos pré-concebidos. E olhar ao seu redor, olhar para as pessoas que estiveram do seu lado durante três dias de convívio, encontrar o significado delas, alguns mesmo que, até ali apenas um estranho, e perceber que o ser humano mesmo com seus defeitos particulares consegue emanar suas virtudes sob o olhar aprovador da Natureza, para essa gente, não teve nem jamais terá medida que consiga medir." (Fonte: CFF/Milagros Diaz) 

Com admiração, respeito e gratidão. 

Valdemir Rodrigues de Andrade
Diretor de Divulgação da FBrN
Conselheiro Maior Região Centro-Oeste



terça-feira, 8 de julho de 2014

O NATURISMO DE PAUL GAUGUIN




Na década de 1890, Gauguin viveu no Taiti e produziu uma série de telas que constitui a parte mais conhecida de sua obra. Seus quadros dessa época registraram o espaço natural e a vida simples das pessoas livres das imposições culturais da civilização ocidental. As telas acima “Duas taitianas com folhas de manga – 1899” e “O Cristo amarelo – 1889” são algumas entre tantas outras produzidas pelo pintor que parte para o Taiti em busca de novos temas e para se libertar dos condicionamentos da Europa.

Após a Quinta Exposição Impressionista realizada em 1880, “L’Art Moderne” publica a respeito de “Estudo de Nu ou Suzanne Costurando”: “Entre os pintores contemporâneos que trabalham o nu, nenhum foi capaz de representá-lo com tão veemente realismo...Gauguin foi o primeiro artista em muitos anos que tentou representar a mulher de nossos dias...Seu sucesso é completo, ele criou uma tela ousada e autêntica”.



Foi inaugurada no dia 30/06 em Vitória ES a Fábrica de Ideias. Um espaço dedicado à economia criativa e ao empreendedorismo que, segundo os organizadores, uma oportunidade para inovação e destaques da criatividade. Exceto quando essa “criatividade” faz referência à arte da nudez humana. Sim, a fachada ganhou um painel de 250 metros quadrados de autoria do artista plástico Emílio Aceti. Inspirado na obra de Paul Gauguin foi pedido (eu li obrigado) que fizesse uma “simples” modificação na sua obra que o mesmo considerou um desrespeito para com a arte.

   

Não minto, tive a sensação de estar vivendo na época medieval em que Galileu teve que retratar suas descobertas científicas. Em pleno século XXI onde já se diz que “O Futuro Chegou” o que vejo é que as pessoas estão sempre querendo se ajustar a uma sociedade neurótica e doente. A obra de Paul Gauguin foi alterada, a arte de Emilio Aceti foi desvalorizada. Ninguém tem o direito de querer mudar a criatividade de um artista, mesmo porque as intuições têm origens que nem mesmo o seu autor sabe de onde elas chegam, mas que precisam ser expressas daquela forma. Quando alteradas, a beleza se perde como num passe de mágica, a poesia ficou escondida no interior do poeta, e por causa disso o encanto morreu.

Elcylio Antunes Neto em seu livro “O Evangelho Segundo Aquenaton” apresentado no encontro literário “Café com Letras” no dia 03/07/14, na página 42 diz: “O que chamamos de maldade não vem de figuras míticas, mas do nosso interior quando está repleto de ignorância.”

O indivíduo com o seu falso moralismo não consegue conceber um mundo mais natural onde possa prevalecer uma nova concepção do corpo humano, ele joga para fora toda a maledicência que possui dentro dele impregnado na sua formação. Esse mundo onde o corpo possui dignidade existe sim e não é utopia, chamamos de Naturismo.

Evandro Telles
08/07/14

terça-feira, 10 de junho de 2014

NATURISMO E YANNI



Yanni, é o nome do livro lançado em Maio desse ano pelo amigo Yan Siqueira, não perdi tempo e logo registrei a minha presença ao lado de uma pessoa que muito admiro por sua incansável dedicação na declamação, na poesia e na forma como ele coloca as palavras em seus artigos. Ora agressiva, mas que retrata muito do que ouvimos no cotidiano, ora mostrando as frustrações das pessoas que vivem frequentemente conosco e em alguns momentos até mesmo de forma amorosa, mas não deixando de ser realista.

Um livro instigante a partir da própria capa onde mostra a fotografia de Claude Cahun, pseudônimo inventado pela artista que se chamava Lucy Renée Mathilde Schwob. Esse nome foi escolhido intencionalmente por se tratar de um nome que poderia ser tanto masculino quanto feminino. Do mesmo modo que Yanni foi considerado. Pode ser homem, mulher ou criança, pode ser qualquer um que queira assumir a sua roupagem.

Yan sabe muito bem que a linguagem nunca pode abranger a totalidade da vida, nunca se teve êxito por meio da expressão linguística, principalmente por causa das falhas das nossas percepções sensoriais, a mente tudo quer dividir: homem, mulher; macho, fêmea; dia e noite; frio e quente. Transcender essa polarização é ir além do Yin e Yang que é um princípio da filosofia chinesa onde representam duas energias opostas. A vida só pode se manifestar com a força dessas energias, o que na verdade não são opostas. Como transcender diante de uma mente fragmentada?


Numa passagem o Yanni estava num reformatório e o autor diz: “O maior problema era lidar com a nudez. Não que fosse tímido, não é isso. Mas as cicatrizes do passado não só marcavam as memórias, mas também o corpo. Souberam que uma cicatriz lhe cortava as costas.”

Em outra Yanni é um homem num corpo de mulher e “Odiava as conversas das meninas, preferia jogar baralho com os meninos no intervalo entre as aulas. Sem saber, eu já tinha escolhido – mesmo sabendo que não se trata de uma escolha – o que queria ser.” (página 70) E quando “Havia feito a minha decisão. Na noite em que contei, minha mãe me olhou com os olhos nus. Ela não esperava que eu fosse tão longe. Você não é minha filha, ela disse. Respondi que ela estava certa. Eu queria ser um filho. Fui expulso de casa.” (página 71)

Outras passagens também merecedoras de destaques, mas no momento ficarei com as que foram citadas acima.

Tenho divulgado a filosofia de vida naturista como um meio de tornar as pessoas melhores, principalmente quando esses “melhores” guarda um significado não somente cultural, mas também do ponto de vista psíquico. Tenho em minhas mãos diversos depoimentos que o Naturismo tirou o indivíduo do seu estado depressivo, em outros casos até mesmo houve o resgate da sua auto-estima. Se Yanni fosse um naturista a cicatriz não seria um problema para a sua nudez, o conceito do outro em relação ao seu corpo não seria de forma nenhuma considerado. Conheci pessoas que mesmo sem um seio, retirado por causa de um câncer de mama, ainda assim freqüentava áreas naturistas. Um verdadeiro exemplo de desprendimento e de uma beleza maior do que os desfiles das misses perfeitas! As verdadeiras mudanças não ocorrem de fora e sim dentro de cada um de nós mesmos.

Naturismo é também harmonia com a natureza. Sabe o que isso significa? Uma das coisas mais belas que pode existir no relacionamento humano, é aceitar o outro do jeito que ele é. Tenho certeza que a preocupação da mãe do Yanni era com os conceitos sociais e o julgamento dos outros, se não fosse por isso e da falta de amor ela jamais negaria a sua maternidade e não precisaria Yanni tentar o suicídio. (página 72) A natureza não pede julgamentos.

Em alguns dos meus depoimentos, quando digo que sou naturista noto disfarçadamente risos sarcásticos como se o movimento nudista encerrasse com a nudez. Isso não é verdade, o seu resultado é psicológico e transparência do que realmente somos, ou seja, uma nova consciência surge a partir de uma nova realidade. E quando vejo algumas piadinhas sem graça com relação ao corpo, fico desejando que o outro tente alcançar uma percepção mais humana e natural. Não nego, às vezes sinto-me frustrado diante de tanta hipocrisia. Pode ser que eu seja o Yanni não aceito pela maioria como citado no livro, nesse caso o Yanni Naturista, mas não me impedirá de tentar criar um mundo melhor para se viver. Obrigado Yan, muitos questionamentos foram tirados do seu livro. Expõem os preconceitos que o Naturismo cura.

Evandro Telles
10/06/14

segunda-feira, 19 de maio de 2014

POR QUE É TÃO DIFÍCIL ENTENDER O NATURISMO?



Todas as culturas sempre buscaram a origem do Universo, o que na verdade se busca é a origem da própria vida. Assim, não tão difícil de entender os constantes atritos entre a ciência e as religiões. Desde os tempos de Tales, passando por Anaximandro que desenvolveu o primeiro modelo mecânico do Universo e chegando em Pitágoras que atribui aos números uma ponte entre a razão  humana e a mente divina. (1) Todos buscando a lógica da natureza e agora em pleno século XXI com o desenvolvimento da energia quântica em que diz que toda a matéria é energia e a lógica cai por terra. A matemática aqui já não é mais a mesma e continuamos buscando, buscando, buscando conhecer a nossa sábia natureza e nada sabemos das nossas origens, estamos nas teorias e brigamos pelos pensamentos que achamos que sabemos de alguma coisa.

O corpo coberto pela pele enquanto sistema sensorial é, em grande medida, o sistema de órgãos mais importante do corpo. O ser humano pode passar sua vida toda cego, surdo e completamente desprovido dos sentidos do olfato e do paladar, mas não poderá sobreviver de modo algum sem as funções desempenhadas pela pele.(2) Muitas pessoas não se permitem o contato dessa pele de forma íntima com a natureza, foi incutida a associação de corpo nu e sexo, o que muitas vezes gera um sentimento de culpa.

Acho bom também lembrar que as crianças educadas num ambiente naturista desenvolvem uma melhor auto-estima, sem a criação de máscaras para esconder seus corpos passam a ter atitudes mais positivas diante da vida. As pessoas que não se aprovam, no fundo também se cobrem tornando-se juízes dos outros. (3)

No entanto, muitos ainda permanecem com ideia de que teriam que justificar para amigos e familiares a sua presença em áreas naturistas. Estranho é que penso justamente ao contrário, como não proporcionar ao corpo um momento de inteira liberdade? A educação da moralidade do corpo é tão forte que o indivíduo tenta esconder a sua personalidade por trás das roupas e novamente cito o Dr John Veltheim: Quando as pessoas usam roupas como um meio de se desligarem do mundo e cobrem-se de modo a que o mundo não consiga ver a sua destorcida auto-imagem interior, elas criam uma tragédia de proporções imensas. Quando se escondem atrás das roupas, as pessoas fecham o seu corpo energicamente e psicologicamente.

Vejam que por trás dos argumentos contrários, atestados cientificamente favoráveis à liberdade do corpo, estão sempre voltados para a moralidade e educação desde a infância. Rejeitar a nudez é rejeitar o corpo, a vida, a natureza. Afirmo que a nudez não deve ser problema para um indivíduo sadio, bem informado, emocionalmente equilibrado. A censura, mais uma vez, é uma forma de violência, que normalmente tem raiz doméstica. (4)    

Celso Rossi tem razão quando diz que Naturismo é também para resgatar a nossa inocência perdida. E por que o Naturismo é tão difícil de ser entendido? Simplesmente porque não aprendemos a conhecer a nossa própria natureza. Sócrates já dizia: Deixe o Cosmo, mergulhe para dentro de si mesmo, não adianta conhecer lá fora o que não se conhece dentro de cada um de nós.

Abandone os conceitos, deixe a vida fluir. Integrando o corpo com a natureza a preservação dela virá naturalmente, caso contrário será suicídio. É justamente o que o homem moderno com todas as suas máscaras está cometendo.   


(1)   Marcelo Glaiser, A Dança do Universo;
(2)   Ashley Montagu, Tocar – O Significado Humano da Pele;
(3)   Dr John Veltheim – Nus Por Baixo da Roupa;
(4)   Paulo Pereira – Corpos Nus




Evandro Telles
19/05/14


terça-feira, 29 de abril de 2014

NUDISMO/NATURISMO NA MÁQUINA DO TEMPO





A Máquina do Tempo é o nome do 6º livro de Anaximandro Amorim lançado no dia 24/04/14 no Café com Letras, e não poderia deixar de prestar a minha homenagem ao amigo que sempre esteve presente, ou representado pelos seus pais, dando apoio a outros escritores e participando também com seus dons artísticos cantando maravilhosamente para todos.

O autor é membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras e da Academia de Letras e Artes da Serra. Também é membro da Academia Espirito-Santense de Letras e da Academia de Letras Humberto de Campos de Vila Velha-ES. Trata-se de diversas crônicas de sua autoria publicadas em seu blog e no Jornal da cidade. A leitura do livro me fez também relembrar algumas passagens na minha vida entre elas cito: No “13 de Julho, dia Mundial do Rock’n’Roll” que diferente de Anaximandro, fui músico e tinha um conjunto musical e péssimo cantor, minha frustração! E no “Meu primeiro carro” que o dele foi um Escort e não consigo esquecer o meu Chevette. Em “A Máquina do Tempo” não pude deixar de relembrar a IBM 82-C que tinha uma coleção de esferas para ter letras diferentes, bom essa era a moderna, tinha também uma Remington daquelas bem...deixa prá lá, não existe mais, exceto em museus.

Para meu espanto, logo que vi a crônica “O direito de envelhecer” não pude resistir em fazer um breve comentário, o que também me fez lembrar do artigo escrito pelo Laércio Júlio da Silva em 01/08/2009 ‘A Beleza que ameaça a juventude”. Ambos mostrando uma ilusão que torna o indivíduo prisioneiro de um sistema que privilegia a estética. Cita ele: Vivemos cercados por uma patrulha velada, a da chamada “ditadura da beleza”. Ela é pior que qualquer caudilho pois consegue estar, eficazmente, em todos os lugares, nos apelos comerciais, nas tevês e nas revistas. É um padrão praticamente inalcançável, que está fabricando uma massa de infelizes.

No meu pronunciamento diante de muitos poetas e escritores citei também a importância da pele humana fazendo referência ao livro “Tocar –O Significado Humano da Pele” de Ashley Montagu em que diz: É até certo ponto espantoso que aquele depósito de parcela tão significativa do espírito humano sensível – a saber, a poesia -, da qual seria possível esperar um profundo e sofisticado entendimento das funções da pele humana, se mostre tão desapontadoramente estéril. Foram escritos poemas para celebrar praticamente todas as partes do corpo, mas a pele, inexplicavelmente, parece ter sido negligenciada, como se não existisse. John Horder, poeta e escritor inglês, comentou esse ponto. Num artigo intitulado “Hugging Humans” (Humanos Abraçando) ele se queixa do fato de muitos dos mais prezados poetas ingleses permanecerem encapsulados em seus intelectos, mantendo com alta frequencia um relacionamento muito precário com seu corpo físico.
Ficou assim a minha sugestão aos intelectuais para que também atentassem que a pele que nos cobre pode muito bem ser motivo para a poesia.

Lembrei não publicamente do livro de Maciel de Aguiar em “Nós, Os Capixabas”, descrevendo a biografia de muitos nomes que fizeram a sua história, entre eles a Luz Del Fuego (Madrinha do Naturismo Brasileiro). Escreve ele que no auge da fama ela disse que “Só cinqüenta anos depois de morta serei lembrada em meu Estado natal”. Faltando poucos anos para confirmação ou não de sua profecia, em Cachoeiro de Itapemirim ainda não existe sequer uma rua com seu nome e muito menos já lhe prestaram homenagem. Após mais de quatro décadas de seu encantamento, que consternou o País, alguns cidadãos da “capital secreta do mundo” também foram esquecidos, embora outros tenham sido homenageados por merecimento.

Continua ele: Possivelmente, no Estado do Espírito Santo, cinqüenta anos não devam ser mesmo um tempo suficiente para se expurgar os resquícios do rancor, da ingratidão e do preconceito contra uma das mulheres mais corajosas e destemidas de seu tempo. Porém bem que sua memória merecia um ato de atrevimento de um cachoeirense justo, solidário e generoso. Deveria ser afixada, no local mais visível da cidade, a seguinte frase: “Aqui nasceu Luz Del Fuego, a luz que iluminou a alma libertária do Brasil e encantou o mundo”.

Obrigado Anaximandro, a sua máquina me permitiu viajar no tempo e de reconhecer que a verdadeira máquina são as nossas lembranças e o reconhecimento daqueles que antes foram desbravadores. Para a nova geração uma lenda, para mim uma eterna gratidão.


Evandro Telles
29/04/14



quarta-feira, 2 de abril de 2014

NUDISMO/NATURISMO - UMA MISSÃO IMPOSSÍVEL




Missão impossível é um filme dos Estados Unidos dirigido por Brian de Palma, com Tom Cruise, Jon Voight, Emmanuelle Béart e outros. Parece-me que a missão não foi tão impossível assim, já que no final ela foi cumprida.

Mas não é sobre o filme que quero tecer comentários e sim dizer que a filosofia nudista/naturista jamais conseguirá modificar as inversões de valores sociais. Viegas Fernandes da Costa em seu artigo “Sobre a Nudez Social” fez o seguinte relato: Ao iniciar estas breves reflexões a respeito da minha experiência com a nudez social, ocorre-me à lembrança uma matéria da revista Veja do final da década de 1990, que tratava da guerra civil na Libéria. Chamou-me especial atenção uma fotografia que exibia o cadáver de um homem nu que havia sido linchado pelos guerrilheiros e abandonado à rua. Podia-se ver todo o corpo, suas feridas, a expressão de dor na face inerte e as lanhuras nos braços e pernas. Sobre o pênis, entretanto, uma espécie de tarja. Fiquei me perguntando o que seria mais obsceno: se a guerra civil e toda sorte de dor e destruição que esta provoca, onde cadáveres humanos são abandonados insepultos em meio à população que desesperadamente tenta sobreviver; ou se a exposição de um pênis aos olhos de leitores pudicos que poderiam se escandalizar, dando uma conotação sexual doentia a uma parte de um corpo humano barbaramente torturado e morto. Encaramos com naturalidade a guerra, o genocídio, a desestruturação social e a tortura, mas a nudez que nos cobre desde nosso nascimento é desnaturalizada ao ponto de um pênis supostamente chocar mais que a própria barbárie da guerra. Há aqui, certamente, uma inversão de valores sobre a qual devemos nos questionar e incomodar.

No entanto existem inversões mais sutis, de modo despercebido pela maioria das pessoas do nosso convívio, do tipo: “Coloque pelo menos uma cuequinha, fica mais bonitinho”. Por que tal afirmativa é uma inversão de valores? Tentarei esclarecer em poucas linhas já que longas explicações jamais serão lidas.

Não existe senão um único templo no Universo, e é o Corpo do Homem.
              Nada é mais sagrado do que esta elevada forma.

Curvar-se diante do homem é um ato de reverência feito diante desta
        Revelação da Carne. Tocamos o céu quando colocamos nossas mãos num
                corpo humano.

Novalis (pseudônimo de autor de Frederich Von Hardenberg, 1772. Citado em Miscellaneous Essays, vol II, de Thomas Carlyle).
  
Tanto a pele quanto o sistema nervoso originam-se da mais externa das três camadas de células embrionárias, a ectoderme, logo, o sistema nervoso é uma parte escondida da pele ou, ao contrário, a pele pode ser considerada como a porção exposta do sistema nervoso (1). Isto é muito significativo uma vez que a pele possuindo uma conexão com o sistema nervoso central ou interno, é também responsável pelas nossas percepções do mundo externo em que vivemos.

Muitos estudos têm sido feitos a partir da década de 70 com resultados surpreendentes e admiráveis com funções variadas: a) base dos receptores sensoriais; b) mediadora de sensações; c) barreira contra materiais tóxicos; d) responsável por um papel de destaque na regulação da pressão e do fluxo de sangue; e) órgão implicado no metabolismo e armazenamento de gordura são alguns poucos exemplos que cito. Até mesmo o autor do livro “Tocar” Ashley Montagu fica intrigado dos motivos da poesia se mostre tão desapontadamente estéril. Diz ele:

Foram escritos poemas para celebrar praticamente todas as partes do corpo, mas a pele, inexplicavelmente, parece ter sido negligenciada, como se não existisse. Num artigo intitulado “Hugging Humans” (Humanos Abraçando) ele se queixa do fato de muitos dos mais prezados poetas ingleses permanecerem encapsulados em seus intelectos, mantendo com alta freqüência um relacionamento muito precário com o seu corpo físico.

Para sentir a beleza de todo o corpo humano, é fundamental entender com o que estamos lidando, com uma fronteira cujo funcionamento ainda não totalmente explicável em nossas pesquisas científicas. E se mesmo assim uma simples “cuequinha” for mais bonita que a pele que nos cobre só mesmo chamando Tom Cruise para mais uma missão impossível de resgate, só que não será de uma pessoa e sim da própria identidade de todos nós.

(1)   Ashley Montagu; Tocar

Evandro Telles
03/04/14



sexta-feira, 14 de março de 2014

NUDISMO/NATURISMO - UM PASSO PARA A AUTOACEITAÇÃO




Muitas pessoas as quais convido para conhecer mais de perto o Naturismo me dizem que primeiro teriam que emagrecer e tornar seus corpos esbeltos, mas isso nunca acontece, seja como for, não se aceitam do jeito que elas são, estão sempre se comparando com alguém. Fatalmente é uma perseguição ilusória, uma desculpa para esconder suas frustrações.

Uma pesquisa realizada pela organização sem fins lucrativos Action of Happiness – em colaboração com a Do Something Different – desafiou 5 mil pessoas a fazerem um ranking de 1 a 10 com os hábitos que mais consideravam “chaves para a felicidade”. Todos os 10 hábitos colocados como opções desta pesquisa estavam estreitamente relacionados com a satisfação geral das pessoas com a vida. Mas, segundo os cientistas, a “autoaceitação” é o fator mais fortemente ligado a esse sentimento. E que, curiosamente, foi o hábito menos relacionado entre os entrevistados, revelando que é algo que as pessoas praticam muito pouco ou quase nada. Por quê? Porque o nosso maior hábito de todos é procurar a felicidade do lado de fora quando, na verdade, ela está dentro de nós mesmos. (1)

Para a professora Karen Pine, psicóloga da Universidade de Hertfordshire e cofundadora da Do Something Different, a pesquisa mostra é que praticar a autoaceitação é o que mais pode fazer diferença no nível de felicidade de uma pessoa. Segundo o Dr. Mark Williamson, diretor da Action of Happiness, “nossa sociedade coloca uma enorme pressão sobre nós para sermos bem sucedidos e nos compararmos constantemente com os outros. E isso causa uma grande quantidade de infelicidade e ansiedade”. (1)

Essa semana uma integrante do Grupo Naturismo Capixaba me informou que irá fazer um depoimento num jornal local (Vitória-ES) relatando como o Nudismo/Naturismo a tirou do seu estado depressivo. Não é incomum acontecer tal transformação, Viegas Fernandes da Costa em seu artigo “Sobre a Nudez Social” cita: “Assim, ao despir-me, na Praia do Pinho, reconheci a “graça” em mim, o “cuidado de si” não para atender às necessidades estéticas do outro, mas para a minha conciliação comigo mesmo, em um processo de reconhecimento da minha integralidade.”

O praticante do Nudismo/Naturismo encontra-se a um passo para sua autoaceitação na medida em que se tem o reconhecimento que as diferenças corporais constitui na impossibilidade da existência de um padrão a ser seguido. Marcelo Gleiser em seu livro “Criação Imperfeita” faz a observação de que deveríamos ter outra noção de beleza a partir das nossas imperfeições, pois “são essas diferenças que tornam a vida interessante. A mensagem que a física de partículas e a cosmologia moderna nos ensinam é clara. Somos produtos de imperfeições da Natureza”. (2) (3)

Na natureza um casulo quando se rompe sai a mariposa. Com o homem parece ocorrer justamente ao contrário, ele nasce uma mariposa e logo entra no casulo, é enjaulado e aprisionado, seu ser espontâneo sofre, e não pode sair disso. Por isso há tanta patologia. (4) As dificuldades de deixar o corpo livre por causa dos seus condicionamentos sociais tornam-se também problemas psíquicos e não é difícil encontrar psicólogos consultando com outros psicólogos, não é estranho isso?

Mas a vida é mesmo estranha. Aqui às vezes os reis são mendigos e os mendigos são reis. Não se deixe enganar pelas aparências. Olhe para dentro. O coração é rico quando palpita com alegria, o coração é rico quando está em harmonia com a natureza, com a lei fundamental da vida. O coração é rico quando você está em harmonia com o todo; essa é a única riqueza que existe. Do contrário, um dia você vai chorar e dizer: “É tarde demais...” (4)

Essa integralidade com a natureza há muito vem sido defendida pelos nudistas/naturistas como uma porta para a autoaceitação, um meio de realizar uma cisão de que a felicidade depende de um corpo perfeito. Infelizmente mal compreendidos pela sociedade e não é por acaso que somos minorias.


(2)   Marcelo Gleiser; Criação Imperfeita
(3)   Dr. Amit Goswami; O Médico Quântico
(4)   Osho; Fama, Fortuna e Ambição


Evandro Telles



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O NUDISMO E A PSICOLOGIA



Psicologia é uma ciência que estuda o comportamento humano e animal e os processos mentais (razão, sentimentos, pensamentos, atitudes). O corpo e a mente são estudados pela psicologia de forma integrada e não separadamente.

O Nudismo deve ser incorporado no estudo da Psicologia porque antes de tudo é também mental e não somente corpo despido. O sufixo “ismo” na palavra já tem o significado de uma doutrina, e a Psicologia poderia contribuir para o entendimento a respeito da nudez humana e as implicações psíquicas no indivíduo em que realiza transformações.

Como se processa essas transformações e como é o novo modo de vida após sentir a liberdade do corpo? Um estilo de vida que se opõe radicalmente ao outro não provocaria choques de identidades? Como seria viver naturalmente e autêntico com o próprio corpo se no meio social em que vivemos ainda não se consegue compreender que o Nudismo é ser livre dos disfarces?

Na dissertação de Mestrado na área de Antropologia de João Paulo Cordeiro Reis cita ele: “As mudanças que se operariam no nível psicológico possuem relação direta com a exposição pública da nudez. A evidência do corpo nu tende a ser percebida como um ato de coragem e aceitação de si, como prova definitiva da superação de um trauma gerado ainda na infância, mas que teria sido ultrapassado a partir de um gesto considerado excessivamente problemático no contexto ocidental. Ao despir-se, o naturista estaria rompendo com uma “cultura da vergonha”, criada para torná-lo medroso e submisso.”

Se a Psicologia tenta explicar o homem, podemos então afirmar que ela também evolui na proporção em que a ciência começa a realizar novas descobertas acerca da nossa natureza. A Física Quântica começa a proporcionar diversas especulações sobre a nossa constituição física e psíquica, a “Psicologia, até então lógica e pragmática, mesmo com sua inerente subjetividade, deverá considerar novas postulações de acordo com as considerações e paradigmas quânticos” (Psicologia e Universo Quântico de Adenáuer Novaes).

As perguntas são: Como a Psicologia irá explicar o psíquico sem considerar as constituições físicas? Será que os próprios psicólogos e estudantes da área estão livres corporalmente a ponto de ter o entendimento mais preciso do psiquismo?  Voltando à monografia acima citada ele faz referência às máscaras sociais:

De acordo com os naturistas, a civilização teria corrompido o caráter do ser humano, tornando-o egoísta e distante dos valores coletivos. De um estado original de pureza, ele teria sido levado à desconfiança e à malícia, tornando-se individualista e competitivo.

Sua nudez, compreendida como a marca da pureza original, teria dado lugar à falsidade das roupas e das máscaras sociais, que teriam a função de ocultar a verdadeira natureza das pessoas, criando múltiplos disfarces no contexto de uma sociedade marcada pela desigualdade.

É diante desse quadro que o naturismo tende a ser considerado como uma via de acesso a um mundo mais igualitário e fraterno, no qual o respeito pelo ser humano seria considerado um valor central. Contrapondo-se ao universo individualista e materialista das “sociedades têxteis”, os naturistas buscariam inventar modelos diferenciados de percepção e conduta, estabelecendo distinções marcadas entre o “nu” e o “vestido”.

No final do ano passado realizei uma palestra para alunos da Faculdade de Psicologia e até hoje nenhum mostrou interesse em realizar seus trabalhos de conclusão de curso quando o assunto é “Nudismo/Naturismo”.  Será que os nossos jovens não entendem que o corpo tem a sua beleza e sabedoria? O movimento Nudista tem muito para ensinar, mas é preciso querer aprender.



Evandro Telles
27/02/14



terça-feira, 14 de janeiro de 2014

NATURISMO E O TOPLESSAÇO





Será que podemos dizer que a nudez da arte do fotógrafo Spencer Tunick tenha algo a ver com o movimento nudista/naturista? E o topless? Termo originado do inglês que significa literalmente “sem a parte de cima” designando a situação na qual a mulher fica com os seios à mostra e não está vestindo nada da cintura para cima.  No final do mês de dezembro foi marcada pela internet uma manifestação chamada “toplessaço” onde, segundo informações das organizadoras tinham 4000 adesões. Compareceu meia dúzia.

Pelas fotos apresentadas nos meios de comunicação, não reconheci nenhuma das pessoas que fossem praticantes do Nudismo/Naturismo, pelo menos nunca fui procurado por elas para participarem do Grupo ao qual sou dirigente, nem mesmo para entenderem as propostas defendidas pelo estilo de vida nudista/naturista.

O “Toplessaço” surgiu de um incômodo da repressão ao corpo feminino. Inaceitável que o seio à mostra seja um caso de polícia. Ótimo, não estou contra essa manifestação, mas daí associar com o Nudismo/Naturismo é algo muito distante. O que elas reivindicam, há muitos anos (desde 1900) a filosofia nudista/naturista incorpora em seus contextos de forma muito mais abrangente, e ainda assim não compreendida. A Dissertação de Mestrado de João Paulo Cordeiro Reis apresentada na Universidade do Rio de Janeiro em 2008 diz ele:

Mais do que uma prática de lazer, portanto, o naturismo insere-se num movimento de crítica da cultura moderna, investindo na construção de novos valores e percepções sobre os seres humanos e sobre o mundo. Inspirados num imaginário sobre o indígena como um ser perfeitamente integrado à natureza e ao convívio social, os naturistas articulam diferentes elementos na construção de um ideal de vida e plenitude. À indiferença das relações entre as pessoas, ao hedonismo fútil da sociedade de consumo, à cultura da vergonha e da culpabilidade exaltam-se valores como o respeito mútuo, a aceitação da diferença, a fraternidade partilhada e a aceitação do corpo e de si.

Encarada pelos naturistas como um dos principais tabus das sociedades ocidentais, a nudez coletiva é percebida como uma prática dotada de significados sociais específicos, cuja principal característica seria o seu caráter transformador em relação ao indivíduo e ao grupo. Para os naturistas, a nudez coletiva pode ser percebida como um operador material e simbólico, modificando percepções, concepções e condutas sociais.

Esses argumentos de João Paulo explicam o motivo da falta da presença do Nudista/Naturista no “Toplessaço”. Não interessa ser vitrine para pessoas desprovidas da Cultura ao Corpo Livre (FKK sigla na língua Alemã), e desconhecedores das formas do corpo feminino. Daí surge a significativa diferença entre o que é pretendido pelos nudistas/naturistas do que é defendido pelo “toplessaço”. De maneira alguma estamos interessados na aprovação do outro do nosso corpo em função dos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade, estamos sim em busca na nossa própria aceitação como indivíduos imperfeitos, únicos, diferentes na aparência e iguais na essência. O “toplessaçõ” busca a aceitação dos que estão de fora, o nudista/naturista faz uma viagem para dentro de si mesmo.

Tal como o poeta que às vezes ainda meio acordado e meio dormindo na madrugada escreve a poesia no seu silêncio, deixa manifestar a sua fluidez segundo a sua própria natureza; assim os nudistas/naturistas sem se importar com seus defeitos físicos entregam seu corpo à própria natureza. Nunca busquei aceitação do que escrevo de A, B ou C se isso acontecesse perderia o meu silêncio, a minha identidade e estaria negando os meus valores. Assim, os nudistas/naturistas meio parecidos com os poetas, simplesmente deixa fluir. A nudez do Nudismo/Naturismo é fluídica e não por imposição, nem pode ser de outra forma já que semelhante a natureza, nada é estático, tudo muda continuamente.

Mesmo que o “Toplessaço” não tenha tido uma presença significativa, mas mostrou que muitas mulheres tiveram vontade de participar e ficaram temerosas de se exporem, o que também é compreensível. Representa uma atitude louvável, provocando reflexões e põe o dedo na ferida: Se a sociedade não se incomoda com as agressões nos ringues, nos campos de futebol e nos noticiários sobre a violência, por que cria um problema quando o corpo está exposto se a ninguém agride? O nome para isso é “hipocrisia”, coisa que já estamos bastante acostumados a ver, parece tão difícil olhar o corpo humano com naturalidade nos dias atuais! Algo para ser pensado.




Evandro Telles
14/01/14