Yanni, é o nome do livro lançado em Maio
desse ano pelo amigo Yan Siqueira, não perdi tempo e logo registrei a minha
presença ao lado de uma pessoa que muito admiro por sua incansável dedicação na
declamação, na poesia e na forma como ele coloca as palavras em seus artigos.
Ora agressiva, mas que retrata muito do que ouvimos no cotidiano, ora mostrando
as frustrações das pessoas que vivem frequentemente conosco e em alguns
momentos até mesmo de forma amorosa, mas não deixando de ser realista.
Um livro instigante a partir da própria capa
onde mostra a fotografia de Claude Cahun, pseudônimo inventado pela artista que
se chamava Lucy Renée Mathilde Schwob. Esse nome foi escolhido intencionalmente
por se tratar de um nome que poderia ser tanto masculino quanto feminino. Do
mesmo modo que Yanni foi considerado. Pode ser homem, mulher ou criança, pode
ser qualquer um que queira assumir a sua roupagem.
Yan sabe muito bem que a linguagem nunca pode
abranger a totalidade da vida, nunca se teve êxito por meio da expressão
linguística, principalmente por causa das falhas das nossas percepções
sensoriais, a mente tudo quer dividir: homem, mulher; macho, fêmea; dia e
noite; frio e quente. Transcender essa polarização é ir além do Yin e Yang que
é um princípio da filosofia chinesa onde representam duas energias opostas. A
vida só pode se manifestar com a força dessas energias, o que na verdade não
são opostas. Como transcender diante de uma mente fragmentada?
Numa passagem o Yanni estava num reformatório
e o autor diz: “O maior problema era lidar com a nudez. Não que fosse tímido,
não é isso. Mas as cicatrizes do passado não só marcavam as memórias, mas
também o corpo. Souberam que uma cicatriz lhe cortava as costas.”
Em outra Yanni é um homem num corpo de mulher
e “Odiava as conversas das meninas, preferia jogar baralho com os meninos no
intervalo entre as aulas. Sem saber, eu já tinha escolhido – mesmo sabendo que
não se trata de uma escolha – o que queria ser.” (página 70) E quando “Havia
feito a minha decisão. Na noite em que contei, minha mãe me olhou com os olhos
nus. Ela não esperava que eu fosse tão longe. Você não é minha filha, ela
disse. Respondi que ela estava certa. Eu queria ser um filho. Fui expulso de
casa.” (página 71)
Outras passagens também merecedoras de
destaques, mas no momento ficarei com as que foram citadas acima.
Tenho divulgado a filosofia de vida naturista
como um meio de tornar as pessoas melhores, principalmente quando esses
“melhores” guarda um significado não somente cultural, mas também do ponto de
vista psíquico. Tenho em minhas mãos diversos depoimentos que o Naturismo tirou
o indivíduo do seu estado depressivo, em outros casos até mesmo houve o resgate
da sua auto-estima. Se Yanni fosse um naturista a cicatriz não seria um
problema para a sua nudez, o conceito do outro em relação ao seu corpo não
seria de forma nenhuma considerado. Conheci pessoas que mesmo sem um seio,
retirado por causa de um câncer de mama, ainda assim freqüentava áreas
naturistas. Um verdadeiro exemplo de desprendimento e de uma beleza maior do
que os desfiles das misses perfeitas! As verdadeiras mudanças não ocorrem de
fora e sim dentro de cada um de nós mesmos.
Naturismo é também harmonia com a natureza.
Sabe o que isso significa? Uma das coisas mais belas que pode existir no
relacionamento humano, é aceitar o outro do jeito que ele é. Tenho certeza que
a preocupação da mãe do Yanni era com os conceitos sociais e o julgamento dos
outros, se não fosse por isso e da falta de amor ela jamais negaria a sua
maternidade e não precisaria Yanni tentar o suicídio. (página 72) A natureza
não pede julgamentos.
Em alguns dos meus depoimentos, quando digo
que sou naturista noto disfarçadamente risos sarcásticos como se o movimento
nudista encerrasse com a nudez. Isso não é verdade, o seu resultado é
psicológico e transparência do que realmente somos, ou seja, uma nova
consciência surge a partir de uma nova realidade. E quando vejo algumas
piadinhas sem graça com relação ao corpo, fico desejando que o outro tente
alcançar uma percepção mais humana e natural. Não nego, às vezes sinto-me
frustrado diante de tanta hipocrisia. Pode ser que eu seja o Yanni não aceito
pela maioria como citado no livro, nesse caso o Yanni Naturista, mas não me
impedirá de tentar criar um mundo melhor para se viver. Obrigado Yan, muitos
questionamentos foram tirados do seu livro. Expõem os preconceitos que o
Naturismo cura.
Evandro Telles
10/06/14